O “ROMANCE-IDEIA”
A ruptura que o
Catatau
opera relativamente à estrutura romanesca tradicional já
se insinua no neologismo “romance-ideia” empregado pelo autor para se referir à obra.
Como aponta Leo Gilson Ribeiro, no
Catatau
“não há o que contar. Tudo acontece no
nível da linguagem” (RIBEIRO, 2010, p. 225). E o próprio autor, em correspondência
ao amigo Régis Bonvicino, se refere à obra como “ficção. mas sem enredo. romance.
sem personagens. realidade. com ideias apenas” (LEMINSKI, 1999, p. 148).
Um conceito que serviu de chave para nossa leitura da obra foi o de “obra não-
orgânica”, proposto por Peter BÜRGER (2008). Diz ele que
“Na obra de arte orgânica (simbólica), a unidade do geral e do particular é estabelecida
sem mediação; na obra não-orgânica (alegórica), ao contrário – é o caso das obras de
vanguarda –, trata-se de uma unidade mediada. Aqui, o momento da unidade é, por
assim dizer, afastado para infinitamente longe; em caso extremo, não é produzido,
afinal, senão pelo receptor” (BURGER
,
p. 118).
O que caracteriza a obra não-orgânica, tal como o
Catatau,
é a ruptura com a
estrutura tradicional da obra pela emancipação das partes em relação ao todo, o que se
expressa formalmente numa maior fragmentação dos seus elementos constituintes.
Dessa maneira, a obra assim fragmentada exige, da parte do receptor, um gesto de
recomposição substancialmente distinto do que é exigido pela obra tradicional, na qual
as partes se subordinam ao todo e concorrem para o mesmo efeito geral. Tal
emancipação das partes é tão evidente no “romance-ideia” de Leminski que ele permite
até mesmo uma leitura não linear, partindo de qualquer página aleatoriamente aberta, a
exemplo de
Galáxias,
de Haroldo de Campos, inventado originalmente para ter as
páginas interiores soltas, para que pudessem ser rearranjadas à vontade pelo leitor.
O NEOLOGISMO
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