O NEOLOGISMO NO
CATATAU,
DE PAULO LEMINSKI
Mauro Bartolomeu
Mestre em Estudos Literários (Teorias e Crítica da Poesia) pela Unesp/Araraquara
Orientador: Adalberto Luís Vicente
RESUMO:
Em sua Teoria da Vanguarda, Peter BÜRGER (2008) afirma que as vanguardas
históricas colocaram em cheque o próprio conceito de “obra”, substituindo a “obra
orgânica”, cuja leitura se fazia com o auxílio de categorias idealistas, pelo que ele
denomina “obra não-orgânica”, cuja leitura demanda o estabelecimento de novas
categorias: o novo, o acaso, o conceito benjaminiano de alegoria e a montagem. Catatau
(1975) é uma prosa experimental (ou um “romance-ideia”, como seu próprio autor a
chamava) que demandou quase uma década de trabalho do poeta curitibano Paulo
LEMINSKI (1944 - 1989), e que constitui um excelente exemplo de “obra não-
orgânica”, tanto pela sua característica de “montagem” de fragmentos, quanto pela
presença constante do “novo”, de modo especial na criação lexical. Interessou-nos
acima de tudo a análise dos processos neológicos empregados por Leminski, o que nos
levou a aproximar o Catatau dos Tender Buttons de Gertrude Stein, na perspectiva da
leitura que deste faz Lisa RUDDICK (1990), que entende essa elaboração radical da
linguagem como forma de ruptura com todo um ideário e uma estrutura social vigente.
PALAVRAS-CHAVE
: neologismo, Leminski, Bürger, Ruddick.
Sob o título polissêmico de
Catatau,
o poeta curitibano Paulo LEMINSKI (1944
– 1989) publicou, em 1975, sua obra mais radicalmente experimental, depois de quase
uma década de trabalho. A ideia original lhe teria ocorrido em 1966, durante uma aula
de história do Brasil, cujo tema era as Invasões Holandesas. Com a invasão de Olinda e
Recife (1630 – 1654), o conde Maurício de Nassau (1604 – 1679) foi nomeado pela
Companhia das Índias Ocidentais para administrar a conquista, o que lhe permitiu trazer
para terras brasileiras sua comitiva de artistas e cientistas, que incluía nomes como
Marcgravf, Wagener, Post, Golijath, Eckhout. Ora, Renê Descartes (1596 – 1650), que,
seguindo o costume da época, latinizava seu nome para Renatus Cartesius, era fidalgo
da guarda pessoal do príncipe Maurício de Orange-Nassau (1567 – 1625), primo e
padrinho de Maurício de Nassau, de quem este recebeu o nome como homenagem. Da
pergunta “e se Descartes tivesse vindo para o Brasil com Nassau?” surgiu o conto
Descartes com Lentes,
que viria a ser o cerne do seu romance de invenção, ou
“romance-ideia”, como preferia Leminski
.
Trata-se da “história de uma espera”, como o
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