Mais interessante que esmiuçar a tipologia dos procedimentos de criação lexical
utilizados por Leminski, como fizemos em nosso trabalho de mestrado, será apresentar
uma pequena amostra dos mesmos.
Em muitos casos, basta ao poeta acrescer uma única letra no interior de um
vocábulo, como em
“nefeliba
s
ta”
(p. 107) (
nefelibata + basta
),
“
a
travessuras”
(p. 94)
(
através + travessuras
),
“diploma
n
cia”
(p. 203) (
diplomacia
+ o sufixo
–mancia,
“adivinhação”)
ou
“de
s
tritos”
(
detritos + distritos
) (p. 64); outras vezes apenas
substitui uma letra, como em
“d
r
agonal”
(p. 54) (
diagonal + dragão,
que, porém,
também poderia ser interpretada como derivação sufixal de
dragão + al
),
“carra
s
cudo”
(p. 76) (
carrancudo + carrasco
),
“partes
fudendas”
(p. 87) (
pudendas
+ o tabuísmo
foder
), atingindo o auge da economia em
“d
í
sputa”
(p. 176), onde logra unir
déspota
e
disputa
, mudando apenas a posição do acento tônico, espécie de
metátese quantitativa,
ou pelo menos seu equivalente após o “‘colapso’ do sistema quantitativo” na passagem
do latim para o português (LAUSBERG, 1981, p. 110).
Também a
metátese qualitativa
é explorada pelo poeta, em
“calhambota”
(LEMINSKI, 2010, p. 47), em que a própria palavra parece ter levado um tombo, ou em
“espeluncações”
(
idem,
p. 144), a partir de
especulações
, por metátese das consoantes
c
e
l,
e acréscimo da consoante nasal na sílaba
–lun-.
Não será demasiado insistir em que
essas descrições apenas ressaltam a
raridade
dessas criações, pois o que temos,
rigorosamente, são misturas de palavras como
especulações
e
espelunca
, no último
caso;
cambota
e
cambalhota
no anterior.
A MESCLAGEM LEXICAL
Ocorrem na obra algo que estimamos em cerca de cinco a seis mil neologismos,
dentre fonológicos, sintáticos e semânticos, dos quais pelo menos a metade constituem
casos de
mesclagem lexical
(forma que atualmente consideramos preferível ao que em
nossa dissertação chamávamos “palavra-valise”). Consideramos que uma breve lista se
exemplos seja mais que bem-vinda a título de apresentação dessa obra instigante. Assim
é que temos
“admilágrel”
(p. 47) (
admirável + milagre
),
“analgébrico”
(p. 193)
(
analgésico + algébrico
),
“antepasmados”
(p. 27) (
antepassados + pasmados
),