A representação de cano e a definição de rede contextualizam a noção de buraco como
vazio contido em determinada forma descontínua. Como operação lógica, a
contextualização encadeia causas por associação e comparação, ao invés de considerá-
las isoladamente, e marca rasa forra sobre o cediço convencional. Já a explicação da
ausência entendida como presença negativa exemplificada por meio da propriedade
adocicada e regressiva do açúcar ausente é esperta, adequada às operações da poesia e
da filosofia. O prefaciador avalia as anedotas de abstração (inferior, impressionista,
apesar disso pujante, já esperto arabesco, apta), hierarquiza procedimentos e prevê
efeitos –“
comicidade
”, “humour”, “
chiste
”, “‘
graça’
”, “
ridículo
”,
grotesco
”, “
sublime
”,
riso (ROSA, 1979, p. 3, 7, 8 e 11). Ao invés de persuadir, essas operações poéticas
requerem dúvida e reflexão.
No quarto prefácio, “Sobre a escova e a dúvida”, o prefaciador é incumbido por
Tio Cândido, uma espécie de mestre
zen
caipira, de redigir um abreviado de tudo.
Ando a ver. O caracol sai do arrebol. A cobra se concebe
curva. O mar barulha de ira e de noite. Temo igualmente angústias e
delícias. Nunca entendi o bocejo e o pôr-do-sol. Por absurdo que
pareça, a gente nasce, vive, morre. Tudo se finge, primeiro; germina
autêntico é depois. Um escrito, será que basta? Meu duvidar é uma
petição de mais certeza.
(Rosa, 1979, p.149)
O prefaciador questiona a suficiência do escrito e cumpre a incumbência de Tio
Cândido: redigir um abreviado de tudo, do que se considera insignificante. Os domínios
da poesia mobilizam todas as funções mentais: afeto, volição e cognição. Nesses
domínios da poesia, a atividade mental ocupa-se de perspectivas mínimas e inusitadas
que podem desacreditar sua validade. Mas se o fingir (imaginar, inventar) precede o
autêntico e a poesia que cultiva todas as funções mentais realiza o potencial máximo do
fingir, a validade da poesia é também potencialmente máxima. O valor do escrito como
poesia depende do exercício das funções mentais incluídas no escrito ou do exercício
das leituras.
O prefácio “Aletria e hermenêutica” apresenta categorias narrativas
(“
anedota
”, “
adivinha
”, “koan”, “
mitos
”) e efeitos de “
chiste
” como a “‘
graça’
”, o
“
ridículo
”, o “
grotesco
”, o “
sublime
” e o riso (ROSA, 1979, p. 3, 5 e 11). As categorias