POESIA E TRANSCENDÊNCIA: O QUE A ESTÓRIA QUER
Maryllu de Oliveira Caixeta cursa doutoramento em Estudos Literários pela
UNESP (Araraquara) – FAPESP
RESUMO: Na introdução do prefácio “Aletria e hermenêutica” de
Tutaméia
de João
Guimarães Rosa, a diferenciação entre estória, história e História faz a paródia da
passagem encontrada na
Poética
de Aristóteles acerca da superioridade da poesia em
relação à história. A estória nega a história e a História para aproximar-se dos mitos por
intermédio de categorias narrativas comunitárias das quais extrai o dispositivo mínimo
demonstrado em “anedotas de abstração” que são uma categoria de anedotas propostas
por Rosa que contrastam fundamentalmente com Aristóteles por atribuírem efeitos de
poesia e transcendência a categorias narrativas comunitárias e operarem com
paralogismos. O objetivo dessa apresentação é considerar a relevância dos efeitos de
poesia e transcendência na constituição das anedotas de abstração.
PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa,
Tutaméia
, estória, poesia, transcendência.
Em
Tutaméia
de João Guimarães Rosa, o primeiro parágrafo do prefácio
“Aletria e hermenêutica” propõe a diferença e a semelhança, paradoxal por vontade e
dever, da estória, a história, a História e a anedota.
O autor brinca com a função
explicativa do gênero prefácio ao fazer uma apresentação ficcional da estória como ser
com vontades e dever próprios. Assim, toma sua literatura como a ficção de um
discurso oral, a estória, distinto por sua inventividade.
A estória, que se relaciona com a
história e a História por negação, tem uma semelhança mínima e esporádica com um
tipo especial de anedota que serve como objeto de interesse à poesia e à transcendência.
A diferenciação entre estória, história e História mencionada faz a paródia da passagem
encontrada na
Poética
de Aristóteles acerca da superioridade da poesia em relação à
história.
Tutaméia
não tem superioridade filosófica, o prefaciador faz graça ao justapor
sistemas filosóficos incompatíveis e brinca com a ideia de totalidade. O prefaciador
aproxima a estória dos mitos na comparação com categorias narrativas comunitárias
(anedota,
koan
, adivinha, provérbio) das quais extrai os dispositivos da estória: as
“anedotas de abstração” das quais “Aletria e hermenêutica” fornece muitos exemplos.
As “anedotas de abstração” são uma categoria de anedotas propostas por Rosa que
contrastam fundamentalmente com Aristóteles por atribuírem efeitos de poesia e
transcendência a categorias narrativas comunitárias terreais e nada filosóficas, ou nada
racionalistas, que operam com paralogismos. Uma das assertivas que encerram o
1...,338,339,340,341,342,343,344,345,346,347 349,350,351,352,353,354,355,356,357,358,...445