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de um verde apagado, aparecem, bem ao centro, dois retratos só de rosto, um ao lado do
outro: o de uma mulher e o da própria personagem. Logo abaixo do retrato feminino, há
uma cadeira vazia, em que está dependurado o chapéu da personagem. Temos
claramente a sugestão de alguém que já fez parte da vida deste homem e que agora já
não está mais ali. As cores frias proporcionam ao leitor toda uma atmosfera de tristeza,
de solidão, de frustração, muito provavelmente pela ausência da pessoa amada. Em
sintonia com essa atmosfera, os versos de Neruda demonstram que a estrela roubada,
brilhando intensamente, à semelhança das fagulhas que se soltam de uma soldagem,
pulsa, querendo retornar à noite de onde foi retirada. Deduz-se que o eu lírico não é feliz
em seus objetivos, já que a coisa amada (a estrela como metáfora da própria mulher)
tem vida própria e não o quer.
Do lado de fora da casa, várias pessoas e um cachorro se aglomeram, todos
com o rosto em direção ao alto, observando o brilho incomum que sai da casa de nosso
personagem, razão pela qual o homem passa a ter uma vida ainda mais incômoda. Nesta
sétima cena, em contraste com as casas de cores frias, as roupas das pessoas que
admiram o brilho da estrela são de cores bem vivas: amarelo, fúcsia, vermelho, verde,
além das estampas em florais, poás e listras. Interessante notar que as pessoas estão
paradas diante da porta da casa, uma porta vermelho fogo, o que remete, uma vez mais,
ao clima de paixão.
Na cena seguinte, uma sequência da anterior, mas a partir de outro ângulo da
casa, vemos pessoas diferentes (casais, mulheres e homens solitários, na calçada ou de
carro), observando o brilho da estrela, que, nesse caso, já aparece parte das ilustrações,
diferentemente da cena anterior. Há uma flecha que aponta para a esquerda, justamente
para a cena anterior, onde se encontra a porta da casa do nosso personagem amante das
estrelas. Essa flecha indicativa da direção de onde saem os raios incandescentes, mais
do que um mero signo visual, é uma tentativa mesmo de dialogar com o leitor,
remetendo-o, para o entendimento desta passagem, à cena anterior. Todo esse tumulto à
frente da casa do eu lírico parece ser a gota d’água para uma decisão: ele resolve
envolver a estrela num lenço e sair mascarado com ela, com a finalidade de não ser
reconhecido.
O personagem caminha, de maneira bastante ressabiada e com o chapéu na
mão, em direção ao Rio Verde. É noite, mas devido ao fulgor dos raios dessa estrela que
contamina a tudo e a todos, parece que é dia na escuridão. Trata-se da nona cena, em
que predominam as cores frias: branco gelado e vários tons de azul e verde. O único
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