grandiosidade do mar. Devido à ideia de causa e conseqüência que estabelecem, a
sétima e a nona estrofe mantém uma ligação entre si. Os versos da sétima estrofe “A
noite bebeu-te as cores/ para pintar as estrelas.” sugerem a morte do interlocutor,
porém, esse acontecimento também faz parte do passado. Através da memória, o
desaparecimento do “tu” (fato crucial para o eu lírico) é revivido no presente. É a
lógica do universo subjetivo superando os limites impostos pela linearidade. Assim,
percebemos que a forte ambiguidade do poema também se dá pelo livre deslocamento
pelos espaços temporais. Portanto, o título “Viagem” suscita o sentido da trajetória
existencial do eu pelas experiências passadas, presentes e por que não futuras. Essa
viagem pelo tempo parece ser impulsionada, sobretudo, pela necessidade de unir-se ao
“tu”. Ainda na sétima estrofe, notamos a forte ação do olhar: “Desde então, que é dos
meus olhos?/Voaram de mim para as nuvens,”. É por intermédio do olhar que o eu
lírico terá a possibilidade de realizar a busca por reencontrar seu interlocutor (esse
intento é um dos fatores fundamentais do poema):
Dentro da noite mais densa,
navegarei sem rumores,
seguindo por onde fores
como um sonho que se pensa.
O itinerário é projetado pela ação do olhar (para o céu). O céu, lugar onde se
encontra o “tu”, sugere uma referência à morte. Por evocar a incerteza, o misterioso,
justifica-se que o céu, simbolizando a morte, apresente as mesmas características do
mar. Na intenção de recuperar o elo com o “tu”, essa espécie de “paraíso perdido”, o
futuro consiste em prosseguir a viagem, isto é, em navegar pelos mistérios da morte
através de sua própria contemplação. O reencontro com o “tu” é mesmo incerto e a
razão da trajetória do eu (da “viagem”) constitui-se na própria busca.