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contraponto é a blusa do personagem: vermelho queimado. Apaixonado e
perceptivelmente triste, o homem caminha rumo a seu destino. É seguido apenas por um
cachorro.
A cena seguinte nos mostra o homem de costas, como a evitar uma despedida e
já com o chapéu na cabeça: lançara suavemente sobre as águas a estrela da noite fria.
Na última cena, o eu lírico observa que não se surpreende com o
comportamento da estrela ao ser lançada no rio: ela move seu corpo de diamante, à
maneira de um peixe insolúvel. O termo “insolúvel”, assim como o seu correspondente
espanhol “insoluble”, após consultados respectivamente os dicionários
Houaiss
e
Diccionario de la Real Academia Española
, tanto podem significar aquilo que não se
dissolve ou aquilo para o que não há solução. Essa dubiedade de sentidos, própria do
texto poético, vem enriquecer ainda mais o presente poema: de um lado, a estrela tem
vida própria, tanto que não se adequa aos padrões hodiernos da vida de um simples
homem; de outro, essa mesma estrela representa para o homem que a rouba um
problema. Eis a riqueza do texto literário, pois as duas formas de sentido podem ser
coerentes com a narrativa poética. A ilustração desta última cena mostra, nas duas
páginas, o curso de um rio em que peixes vermelhos nadam alucinadamente. Onde está
a estrela? Ela, apesar de não dissolver-se, está cintilando entre eles. Não a vemos, mas
ela está lá. Assim como o amor, que não é algo palpável, mas que tantos males causa
aos corações (assim como bens). A escolha do rio para devolver a estrela ao seu
habitat
talvez seja pelo fato de a lua, assim como as estrelas e o próprio céu – casa das estrelas
–, sempre refletirem sua imagem no leito das águas...
A propósito da ilustração, tomamos como base a metodologia de Luís de
Camargo sobre as funções da imagem (1998 e 2006), segundo o qual, “há várias
convergências entre o signo visual e o signo verbal, entre elas, as funções da linguagem
e as funções da imagem”. Ampliando as funções da linguagem teorizadas por Roman
Jakobson, Camargo (1998) propõe que o signo visual pode desempenhar as seguintes
funções: (a) representativa; (b) descritiva; (c) narrativa; (d) simbólica; (e) expressiva; (f)
estética; (g) lúdica; (h) conativa; (i) metalinguística; (j) fática; (k) pontuação.
Entre essas funções da imagem, considerando também o leitor implícito de
Ode
a uma estrela
, procuramos identificar, com base no que o próprio objeto de estudo em
questão nos oferece, as que seguem:
narrativa
, voltada a situar o ser representado em
um devir, por meio de transformações ou ações, de modo que instaura a sugestão de
uma história, uma cena ou uma ação;
estética
, orientada para a forma mesma da
1...,332,333,334,335,336,337,338,339,340,341 343,344,345,346,347,348,349,350,351,352,...445