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Ode a uma estrela
(2009), desde a sua publicação original, como um poema
dentre vários outros pertencentes ao
Terceiro livro das odes
(1957), passou por duas
transformações importantes. A primeira delas foi a tradução do espanhol para o
português, tarefa muito bem elaborada, aliás, pelo poeta Carlito Azevedo, visto que
nossas considerações aqui se pautaram pelo cotejo desta com a versão espanhola. A
segunda ocorreu justamente quando a Cosac Naify se propôs a adaptá-lo ao público
infantojuvenil. Trata-se desta obra que ora nos propomos a estudar. É uma versão bem
distinta da original, não pelo teor poético ou pela linguagem, mas pelo contexto do qual
agora vem revestida: as ilustrações primorosas da espanhola Elena Odriozola.
A questão que se coloca é a de que um poema como “Ode a uma estrela”, pelo
simples fato de vir embelezado com ilustrações, deve ser remetido ao público infantil,
como o faz a
Revista Crescer
, já anteriormente mencionada, que recomenda a leitura da
obra a crianças a partir de sete anos de idade? Entendemos, sim, que uma obra de arte
(tanto as palavras quanto a ilustração) pode ser apreciada por quem quer que seja,
independentemente da idade. Por que um adulto não pode deleitar-se, por exemplo, com
a leitura de um livro como este
Ode a uma estrela
?
Vê-se, portanto, que rotular não é saída. O que, de fato, ocorre com esta
belíssima edição da Cosac Naify para um poema de Neruda, é que “Ode a uma estrela”
foi reendereçado a outros leitores. Corrêa (2010, p.247), num estudo sobre algumas das
muitas versões de Chapeuzinho Vermelho, salienta que reendereçamento “refere-se à
publicação de uma mesma obra (ou um reconto dela) destinada a um público diferente
daquele do texto fundante”. Apoiando-nos nessa concepção de Corrêa, é que
concebemos a obra em estudo.
2. O lirismo das estrelas: análise do poema
Para que se proceda a uma análise do poema “Ode a uma estrela”, de Neruda,
entendemos ser necessário nos reportarmos ao original “Oda a uma estrella”. No
original, em língua espanhola, o poema apresenta nove estrofes. Já na versão portuguesa
que analisamos aqui, o poema aparece subdividido em onze estrofes.
Como a obra em questão não contém número de páginas, a narrativa poética
está fracionada em onze cenas, ou seja, onze momentos de intenso lirismo, acentuado
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