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página da direta, predomina também do lado esquerdo. O homem parece esconder-se de
tudo e de todos, mas mesmo assim é observado por alguém que está à espreita numa
janela, por trás das cortinas. E quanto mais ele tenta esconder-se, fugir, mais a estrela
brilha, atingindo uma proporção bem maior que o tamanho desse homem.
Enfim chega a casa. Eis a terceira cena. Afobado, sobe as escadas com a estrela
no bolso e o chapéu na mão esquerda. A escada branca, assim como a parede verde por
trás da mesma, perpassam as duas páginas que compõem a cena. O verde detrás da
escada contrasta com o branco da parede à frente da escada. Trata-se de um branco que
parece levar ao infinito, pois sobe, afunilando-se, até o alto da página direita, dando a
clara impressão de que continua. O brilho da estrela aumenta: é quase cinco vezes maior
que o tamanho do personagem. É nessa parte em branco que se inscrevem as palavras
do poema de Neruda.
Na quarta cena, a irradiação da estrela é tão intensa que, além de dominar toda
a casa, começa a sair pela chaminé. No dizer do próprio eu lírico, apesar de guardar a
estrela debaixo da cama, a sua luz atravessa a lã do colchão, as telhas e o telhado de sua
casa. Sob a escura noite, a casa, num tom de ocre esverdeado, ao lado de outra, de cor
marrom, contrasta com o forte brilho da estrela roubada. A ilustração começa na página
esquerda e ocupa todo o lado direito da cena.
Na cena seguinte, temos um ambiente interior da casa: ao centro, um canapé,
com estofado em vermelho vivo, contrasta com o fundo do cenário, em que predomina
o branco, mas no qual aparecem também paredes e porta num verde e cinza apagados. O
personagem, do lado direito da cena, está desolado e cabisbaixo, com seu chapéu ao
chão. Seu pulôver é também de um vermelho intenso. Numa perspectiva semiótica, a
presença do vermelho carmim da roupa do nosso personagem, assim como do móvel ao
centro, das flores de um vaso e de uma cadeira à esquerda, nos indica tratar-se de uma
paixão avassaladora entre o sujeito amante e o objeto de seu desejo: a estrela. O brilho
da estrela mistura-se com o branco da parede, criando uma atmosfera enevoada, onírica.
Pelas palavras do poeta chileno, percebemos o porquê da frustração: o eu lírico constata
que o brilho da estrela começa tornar incômodos os seus afazeres mais simples.
Nesta sexta cena da narrativa poética, nossa perspectiva é de fora do quarto da
personagem. Completamente envolta no brilho da estrela, nós a vemos deitada na cama,
com um livro ao chão e os chinelos desgrenhados: é a situação de quem está desistindo
da própria vida. A parede do quarto, num tom azul petróleo, se mescla com o fulgor da
estrela que a personagem insiste em guardar. Na parede do ambiente anterior ao quarto,
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