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pelas belíssimas ilustrações da presente edição, sempre em folhas duplas, de modo que
o poema aparece numa das folhas e, na outra, predomina a ilustração. Justamente por
essa razão é que há um número diferenciado de estrofes nas versões em castelhano e em
português, com a finalidade também de fazer valer a construção de sentido gerada pela
inter-relação entre as linguagens verbal e imagética.
Antes de repensar as questões relativas à análise propriamente dita deste
poema, importa considerar o que se entende por “ode”, forma clássica do fazer poético.
Primitivamente, o vocábulo “ode”, de origem grega, significou canto. Na Renascença,
as odes já se caracterizavam pela liberalidade na métrica e por versos brancos, mas com
certo tom declamatório. Em nossos dias, a “ode” marca a fusão de uma visão épica da
existência e dos impulsos profundos da individualidade. Nesse sentido, com a mesma
liberalidade no metro e com versos sem rima, a “ode” acaba funcionando como um sinal
da crise que avassala o mundo hodierno. (MOISÉS, 2012, p.264). É justamente o que
notamos em “Ode a uma estrela”. Nesse poema, do ponto de vista formal, os versos são
brancos e sem métrica regular; do ponto de vista do conteúdo, por outro lado, há um
profundo movimento em direção à introspecção humana, o que não deixa também de ser
universal, vez que a temática do sofrimento de amor se aplica a todos os homens.
Apresentamos a seguir o poema “Ode a uma estrela”, do chileno Pablo Neruda,
traduzido pelo poeta carioca Carlito Azevedo:
Ao subir à noite
no terraço
de um arranha-céu altíssimo e
aflitivo
pude tocar a abóbada noturna
e em um ato de amor extraordinário
apoderei-me de uma estrela celeste.
Era uma noite negra
e eu deslizava
pelas ruas
com a estrela roubada em meu bolso.
De trêmulo cristal
parecia
e era
num átimo
como se levasse
um pacote de gelo
ou uma espada de arcanjo na
cintura.
Guardei-a,
temeroso,
debaixo da cama
para que ninguém a descobrisse,
sua luz porém
atravessou
primeiro
a lã do colchão,
depois
as telhas,
e o telhado da minha casa.
Incômodos
tornaram-se
para mim
os afazeres mais comuns.
Sempre com essa luz
de astral acetileno
que palpitava como se quisesse
retornar para a noite,
eu não podia
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