A crítica moderna de sentido negativo e as análises de estilo não correspondem às
experiências e necessidades dos leitores de hoje que não são formados para a
transcendência estética. Para conversar com os leitores de hoje, a crítica pode estudar
objetivamente as deformações da forma em sua funcionalidade.
Nos textos de Rosa, a integração de representação da fábula e
avaliação da linguagem aplicada à representação relaciona o ficcional
do efeito imaginário e o intencional dos procedimentos técnicos como
tensão contínua de indeterminação do efeito e comunicação da
técnica. (HANSEN, 2007, p.29-30)
Tutaméia
apresenta a estória aproximando-a de categorias narrativas comunitárias
através das quais discute o fazer literário, distorce postulados românticos, parodia
aspectos dos pensamentos moderno e clássico.
“Aletria e hermenêutica” afirma a atualidade da luta dos gregos pela verdade e,
simultaneamente, a inexistência do erro (ROSA, 1979, p.8). As anedotas de abstração
não se reduzem a um princípio irracionalista e a negação do erro propõe mecanismos
que o constituem como efeito e causa. Os efeitos da ficção podem ser considerados
como erro (adorno ou engano) por não corresponderem a modelos racionalmente
adequados de pensamento. “Aletria e hermenêutica” resume os procedimentos da
estória nas anedotas de abstração compostas por paralogismos e mecanismos de mitos
presentes também em outras categorias narrativas comunitárias. Como ficção, a estória
promete transcendência, uma operação mental superior ao ornamento, à expressão do eu
e à fantasia evasiva a que a literatura por vezes foi reduzida na modernidade. As estórias
propõem paradoxos como processos que efetuam supra-sensos, confrontam as posições
da poesia e da ficção na modernidade reduzidas a adereço e ilustração de fatos
históricos.
“Aletria e hermenêutica” retoma a identificação romântica de poesia e religião
ou poesia e transcendência e a insere nos domínios da anedota de abstração. A poesia
romântica, transcendental ou universal progressiva, intentava estabelecer uma
comunhão do eu com o cosmo em termos que não podem ser objetivados, ou expressos
de maneira positivas, já que se trata de uma relação com o supra-sensível. Já a anedota
de abstração produz um tipo de transcendência às avessas, não apenas silenciosa, mas
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