narrativas comunitárias servem de modelo para as anedotas de abstração que aproveita
da anedota, segundo sua etimologia e finalidade, o preceito do inédito (ROSA, 1979, p.
3) que ao provocar surpresa revela uma perspectiva nova, assim como o chiste.
O chiste inventa os ângulos surpreendentes do incondicionado. As epígrafes de
Schopenhauer nos índices de leitura e releitura de
Tutaméia
prometem uma nova luz a
cada outra leitura dessa obra caracterizada aí como organicamente ordenada. Ser
animado por efeitos de chiste e categoria narrativa que afirma a liberdade ficcional
vinculada a procedimentos e efeitos que categorias narrativas comunitárias
compartilham com os mitos, a estória recupera o projeto romântico de um gênero que
reunificasse todos os outros, um gênero supremo (SUZUKI, 1998, p. 195). Schlegel
apresenta a mitologia como “o chiste mais antigo”, ponto original de tudo ou da própria
linguagem. O chiste como a mitologia operam a linguagem mais originária e radical. O
chiste vincula sugestivamente os saberes e projeta um saber completo (SUZUKI, 1998,
p. 199, 204 e 211).
Os prefácios de
Tutaméia
são simulacros críticos que parodiam discursos
clássicos e modernos. “Aletria e hermenêutica” começa parodiando a conhecida
diferenciação entre poesia e história feita por Aristóteles e, à medida que simula teorizar
e apresenta a ficção do ser estória a partir do estudo da anedota de abstração, cita outros
três gregos: Platão, Protágoras e o poeta Píndaro. As outras muitas citações são
atribuídas quase que totalmente a modernos. Os outros três prefácios citam latinos e
modernos enquanto apresentam o debate estético e o vinculam a contextos diversos. Os
prefácios formam um grande coro de uma enunciação coletiva na qual o prefaciador
conversa com antigos e modernos anacronicamente. Ao invés de apresentar um projeto
individual como um saber anterior ao texto, Rosa conversa nominalmente com antigos,
modernos, fontes fictícias e assim estabelece uma enunciação coletiva por meio de um
coro de formações discursivas heterogêneas e discrepantes, o que coloca em suspenso a
sua função de transmitir valores eternos.
A enunciação oral da estória é emprestada de categorias narrativas
comunitárias: anedota,
Koan
, adivinha, provérbio-mito. Essas categorias narrativas
comunitárias, que em última instância efetuam transcendência, ligam-se indiretamente
ao discurso mítico, o que enfatiza seu valor comunitário e propõe o sentido superior
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