suavemente com as algas como se pensasse” (Siméon, 2007, p.26). Depois de todos os
interrogatórios e de concluir que nem os poetas sabem o que é um poema, Artur volta
para ver Leo que “dormia profundamente, entre as pedras atrás das algas.” (Siméon,
2007, p. 37). O advérbio profundamente nos remete ao poema “Profundamente” de
Manuel Bandeira (1886-1968). Aqui também o eu lírico dorme profundamente. Mas o
dormir
profundamente
de Leo não é definitivo, mas o do sono, parente da morte, porém
reversível. Observamos que logo após o advérbio vem a vírgula; se viesse o ponto final,
poderia ser definitivo, portanto, irreversível, como no poema de Bandeira.
Para cada pessoa que Artur pergunta, poema tem um significado diferente.
Nem mesmo o avô que é poeta sabe com precisão o que significa poema. São
exatamente essas várias definições e indefinições que dão à poesia riqueza e
grandiosidade, pois a sua expressão pode ser multifacetada. A partir destas várias faces,
definições e indefinições, Artur constrói um poema para Leo (Siméon, 2007, p.38):
Um poema
é quando a gente sente o céu na boca,
é quente como um pão
que se come e nunca termina.
Um poema
é quando a gente escuta
bater o coração das pedras,
quando as palavras batem asas,
é uma canção na prisão.
Um poema
são palavras de ponta-cabeça
e, opa!, o mundo fica novo.
Ao ouvir o poema, Leo desperta e fala que é um poeta e que o poema é o seu
silêncio e, de repente, tudo adquire significado. Para Lavínia Fávero, na poesia, o
silêncio não representa uma ausência, mas uma possibilidade de sentido, pois o que o
poema cala diz tanto quanto o que ele enuncia, porque sinaliza algo que está faltando.
Para cada definição de poema, Artur diz “Ah é? Legal.” Expressão que se
repete no livro por sete vezes. Uma única se diferencia das demais; trata-se da última,
que é entrecortada pela fala de Leo:
– Então sou um poeta, Artur.
1...,314,315,316,317,318,319,320,321,322,323 325,326,327,328,329,330,331,332,333,334,...445