exemplo, Arthur procura no armário da cozinha, no armário das vassouras ou embaixo
da cama a resposta para seu problema. E é justamente no armário das vassouras que o
leitor se depara com um estiloso recurso poético na fala do pano de chão gripado “
Zem
boema bor agui
” (Siméon, 2007, p.12) que constitui uma onomatopéia, a figura em que
o som da letra que se repete lembra e ou imita o som do objeto referido.
É a mãe que sugere, sorridentemente, a Arthur, dar um poema para Leo. A
sugestão inusitada só poderia ser proposta por uma artista ou pessoa muito sensível.
Depois de sugerir, ela sai para a aula de tuba. Observamos que ela toca um instrumento
não muito comum. Também não é nada comum sua sugestão. Ela sabe música, portanto,
sabe também que a musicalidade de uma poesia poderá curar.
No armário da cozinha, os macarrões respondem, desanimadamente,
“neeenhuuum pooeeeema” (Siméon, 2007, p.10). Se houvesse poema ali, certamente os
macarrões estavam mais felizes. Interessante notar como o autor faz uso das figuras de
linguagem durante o livro. Aqui, por exemplo, figurou a prosopopéia ou personificação,
pois ele atribuiu aos macarrões, seres inanimados, o desânimo e a fala, sentimento e
ação próprios dos seres humanos. É o que acontece com a poeira quando Artur procura
poema embaixo da cama dos pais. Ela, às gargalhadas, diz “Nem poema nem penico”
(p.13). E também com o canarinho Aristófanes quando diz que poema é uma canção na
prisão.
A Literatura forma, não pedagogicamente, mas humanamente. A função
formadora é aqui entrevista na descoberta de um mundo de infinitas possibilidades, na
descoberta das palavras, dos sons e das rimas. Indiretamente, por meio de muita
imaginação e fantasia,
Isto é um poema que cura os peixes
nos persuade de que a
poesia, além de existir para ser admirada, para ser bonita, ela poderá ser uma salvação,
por isso a sugestão de curar o peixe por meio de um poema. E isso nos faz lembrar de
Goethe (1749-1832): “não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e
não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte.” A arte, a palavra poética teria o
poder curativo e impede Leo de morrer de tristeza.
À procura de uma definição para poema, Arthur procura fora, aquilo que não
encontra em sua própria casa e corre até Tatá, o vendedor de bicicletas, que diz que “um
poema é quando a gente ama e sente na boca o sabor do céu”. Tatá é feliz, é apaixonado
e canta enquanto trabalha. Quanta poesia (e quanto amor) há na definição de Tatá! É
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