autoria do soneto “Não lamentes, Alcino o seu estado”
¹
(...) Mas pede a verdade que se diga que Manuel Maria foi
inteiramente extranho a esta composição. Conforme o testemunho
irrefragável dos contemporâneos mais bem instruídos n‟estas
particularidades, o seu
verdadeiro autor foi João Vicente Pimentel Maldonado. É certo que
ainda em vida de Bocage muitos lh‟o attribuiram; porém ele nunca o
reconheceu por seu: ao contrario, diz-e-nos que consultando-o alguém
a esse respeito, respondera que lhe não agradava, mas que se o tivesse
feito, em logar do verso
O teu cono não passa por honrado,
Teria dicto,
Não passa o cono teu por cono honrado.
(...)
(p.105)
Entende-se, pois, que o segundo verso do qual o poeta trocaria, é mais afeito
às suas características, e de fato traduz uma maior movimentação, que pode ser
visualizada em relação ao primeiro verso.
Além dessa descrita sensação dinâmica, Coelho, J.P. (1961) e Coelho, N.N.
(1966) afirmam unânimes a
visualidade
das imagens bocagianas, em que o poeta
encontra “o seu estímulo” (Marnotto, p.168). e se impõe “pela forma, cor e
movimentação” (Coelho, N.N. p.22), com “expressiva concretização de noções
abstratas” (Coelho, N.N. p.23) e cenas narrativas. (Coelho, N.N. p.24), Coelho, J.P.
(1961) aponta ainda que “Bocage é um poeta de claro-escuro, ora de sombras nocturnas,
ora de serena luminosidade” (p.197). Também ressalta que o poeta tinha uma
“predileção pelo
visualismo
na elaboração das imagens poéticas, recurso tão do gosto
clássico” e que “praticamente toda idéia ou emoção, expressa pela poesia do Bocage,
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1. Soneto V. in:
Poesias eróticas, burlescas, e satyricas.
Bruxellas. 1854
1...,302,303,304,305,306,307,308,309,310,311 313,314,315,316,317,318,319,320,321,322,...445