Sempre que os seus folhetos versam sobre a sogra percebe-se que a trama se
desenvolve em torno dos dois personagens: a sogra e o genro, que vivem se degladiando
e medindo forças, sempre numa grande disputa. Mas apesar disso, por se tratar
principalmente de uma sociedade patriarcal, não foi permitido que a mulher explicasse a
sua versão dos fatos narrados pelo poeta, pois ela, como mulher, não tinha voz na sua
posição dentro da sociedade. Ela não pode expressar suas vontades, seus sentimentos,
aflições e tampouco suas qualidades, a mulher não tem liberdade de expressão.
A sogra será sempre o antônimo da figura da mãe do poeta, pois a mulher na
condição de sogra consegue como nenhum outro personagem familiar canalizar a
antipatia, o ódio, a inimizade, a discriminação e o preconceito em si mesma. Esse era
um pensamento unânime na cultura popular. Esse é um pensamento que atinge todas as
classes sociais e todos os seus segmentos, sem que haja a importância da condição
econômica. “... Toda essa discriminação é agravada se a sogra for negra, pobre e viúva”.
“ A mulher, na condição de mãe de um dos cônjuges, adquire
uma nova identidade feminina, quando esta é transportada para a
condição de sogra, migrando do status sacralizado e divinizado de
mãe para o “profanado” estado de diabólica e infernal sogra, vindo
de forma híbrida, um mesmo ser e corpo a fragmentar-se em dúbias
e contraditórias identidades que são exercidas pelo mesmo ser em
um espaço e circunstâncias díspares, enquanto mãe e sogra. A
mulher assim representada em dupla faceta identitária da genitora e
sogra, oscila entre o sacro e o profano, entre o belo e o grotesco,
sendo percebida pelos olhos alheios e estrangeiros de forma
carnavalizada [...]”.
(SILVA, 2011, p. 48-49)
Sendo assim, a mulher quando representa o papel de mãe está sempre associada
ao papel desempenhado pela Virgem Maria, pois é sempre sacralizada, exercendo o
papel divino da maternidade. Já o papel de sogra é o lado obscuro da mulher, também
profano, “que inferniza a vida dos filhos dos outros”. A sua condição de sogra faz com
que ela seja excluída até mesmo socialmente. “Quando a mulher na condição de sogra
aparece nos folhetos, as demais mulheres, que habitam aquele único corpo parecem
desaparecer”.
A figura da sogra é carnavalizada pelo poeta, com a intenção de criar o riso
irônico, escrachado, a partir da ridicularização dessas mulheres, criando-se uma imagem
caricaturada da figura feminina. Geralmente no meio popular não se sabe quem começa
o deboche que é feito, mas este é reproduzido por todos aqueles que o apreciam.
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