Quando Leandro Gomes de Barros escreve sobre a sogra, ridicularizando-a, ele
quer atrair a solidariedade de seus leitores a partir do riso, pois eles estarão sempre a
favor do genro ou da nora. O humor utilizado pelos cordelistas sempre reforçará o
preconceito e o estigma do qual elas são vítimas.
No livro
As mulheres são o diabo,
organizado por Sérgio Nazar David, também
é possível constatar as mudanças de tratamento para com as mulheres em diversas
situações, principalmente no texto “
Representações da mulher diabolizada em textos
medievais”,
escrito por Maria do Amparo Tavares Maleval, em que é possível constatar
os primeiros motivos que levaram as mulheres a serem consideradas como “bruxas”,
sendo esses infidelidade, luxúria e ambição. Essa mesma definição muitas vezes é dada
à sogra.
Se engana quem pensa que essa visão sobre a sogra é relativamente nova. Ela na
verdade representa valores que atravessaram milênios e teve origem nas sociedades
ocidentais. Existem indícios da figura da sogra até mesmo na mitologia grega, como as
deusas que interferiam em relacionamentos e influenciavam as relações amorosas,
positivamente ou negativamente.
“ O mito de Afrodite pode ser exemplificado como um
embrionário conflito sogra e nora, quando essa faz de tudo para
afasta a bela e jovem Psique de seu filho Eros. A relação
tempestuosa das duas perdurou com todas as suas ambiguidades,
contudo permanece “para sempre””.
(SILVA, 2011, p. 70)
Afrodite se sente ofendida, pois sendo a deusa da Beleza, não poderia ser
preterida por uma mortal. Esse sentimento só piora quando vê que o seu próprio filho,
Eros, se apaixona pelo seu desafeto. E assim dispara a sua ira contra a sua nora,
tornando a vida dos dois um “inferno”.
Foi a partir do momento em que se estabeleceu a monogamia que a figura da
sogra começa a perturbar o homem, pois começam a ser vistas como a causa exterior
para a desarmonia familiar.
A figura negativa da sogra viajou desde os mitos gregos até o medievo, fazendo
com que assim houvesse a perpetuação desses estigmas depreciativos. Sendo assim, as
sogras medievais estão associadas “às madrastas más e às bruxas malignas”, o que
acontece em contos como A Branca de Neve, Cinderela, etc., essas mulheres malignas
desempenham na verdade o papel de mães dessas moças, que enfim encontraram seus
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