corresponde a uma imagem que se impõe aos olhos pela cor, forma e movimentação”
(Coelho, N.N. p.22), Saraiva, A.J.; Lopes (2005) também explicitam que as imagens
bocagianas não apresentam uma “pela palavra que as identifica diretamente”, mas
surgem “surjam sempre através de imagens que, por vezes, chegam a se avizinharem de
verdadeiras alucinações” (p.643).
Essas idéias de visualidade e dinamismo são bem perceptíveis no autor e são
identificáveis em vários de seus sonetos. Para exemplificar, vejamos aspectos de
visualismo no poema sobre o ciúme:
Há um
medonho abismo
, onde baqueia
A impulsos das paixões a Humanidade;
Impera ali
terrível divindade
,
Que de
torvos ministros
se rodeia:
Rubro facho
a Discórdia ali meneia,
Que a
mil cenas de horror
dá claridade;
Com seus sócios, Traição, Mordacidade,
Range os dentes a Inveja escura e feia
:
Vê-se a
Morte cruel no punho alçando
O ferro de sangüento ervado gume
,
E a toda a natureza ameaçando:
Vê-se arder, fumegar sulfúreo lume
...
Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando!...
Mortais, não é o inferno, é o Ciúme!
Coelho, N.N. (1966) aponta as imagens poéticas bocagianas como sendo
“expressiva
concretização de noções abstratas,
(...) confirmando amplamente aquela
intenção de clareza de pensamento e objetividade perseguidos pela estética clássica e
neoclássica”. (p.23). A autora confirma a “configuração plástica” do poeta português
“através de substantivos concretos e verbos dinâmicos”. (p.23).
Essa “configuração plástica”, citada pela autora, encontra-se em vários
elementos do soneto. Tomando-se o soneto sobre o ciúme, é possível averiguar mais
delas. A mais evidente é um soneto como um todo, que parece realmente um quadro, e
elementos específicos do poema, perceptíveis na
singularidade em seus adjetivos
como
“
medonho abismo”, “marinho furor”, “Rubro facho”, “sulfúreo lume”, “duras,
cavernosas fragas”, “negras paixões”, “Razão feroz”. Também é perceptível em
Personificações,
como
“Inveja escura e feia”,
“
vê-se a
Morte
cruel no punho alçando” .