vez
(2010) dos escritores portugueses José Jorge Letria e André Letria. O estudo nos
permite observar como se dá a constituição temática dos textos produzidos no século
XXI, como também investigar estilos e formas, por conseguinte repensar o lugar da
vertente em pauta na crítica literária.
O texto
O olho de vidro do meu avó
(2004) de Bartolomeu Campos de Queirós
trata-se de uma prosa poética, narrada em primeira pessoa em que as lembranças da
infância são revividas pelo neto que já adulto guarda o olho de vidro do avô que sumira
misteriosamente. O narrador registra a complexa relação entre as pessoas, visto que
comenta sobre o relacionamento dos avós, os afazeres dos familiares e a vida pacata na
cidade de Bom Destino. Entretanto ao relatar os fatos, aparentemente simples notamos
certa complexidade na maneira de agir das pessoas e na maneira de o neto formular suas
hipóteses sobre a maneira do avô ver o mundo com um olho de verdade e o outro de
vidro. Assim, cria construções linguísticas significativas, apropriando-se da polissemia.
O avô recebe uma atenção particular, sobretudo porque usa olho de vidro: “Era
de vidro o seu olho esquerdo. De vidro azul-claro e parecia envernizado por uma eterna
noite. Meu avô via a vida pela metade, eu cismava, sem fazer meias perguntas”
(QUEIRÓS, 2004, p. 5). Sabe-se que um dia foi para São Paulo, cidade que parecia
pertencer a outro país e voltou com “dois olhos, mas apreciando a paisagem apenas com
o lado direito. Pelo olho esquerdo ele só adivinhava. Um olho era de mentira e o outro
de verdade. Mas isso não lhe trazia problema” (QUEIRÓS, 2004, p. 7), pois com o
“olho direito meu avô via o sol, a luz, o futuro, o meio-dia. Com o olho esquerdo ele via
a lua, o escuro, o passado, a meia-noite” (QUEIRÓS, 2004, p. 8). O neto deixa traduzir
o seu encantamento pelo avô
Já o texto intitulado
Tempo de voo
(2009) de Bartolomeu Campos de Queirós
relata a conversa entre duas personagens: um menino e um velho. O início da narrativa
se dá com a pergunta da criança: “-Nossa! Você está todo trincadinho” (QUEIRÓS,
2009, p. 7). O interlocutor, por sua vez, responde-lhe “-É o tempo, meu menino, é o
tempo” (QUEIRÓS, 2009, p. 7). Assim, a partir do mote inicial, o adulto volta-se para si
e devolve para a criança os questionamentos sobre a passagem do tempo. O personagem
adulto explica de forma metafórica, lúdica e filosófica a questão em pauta para o
menino, estendendo-se a passagem da vida e as diferentes circunstâncias das quais
experimentamos no decorrer do tempo.
O texto não apresenta subdivisões de capítulo, os acontecimentos são
apresentados ao leitor em ordem cronológica, por conseguinte há uma organização
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