mais é do que o âmbito da ficcionalidade por excelência, pois Facundo, neste caso, está
na personificação do “espírito do Pampa”.
Segundo Denise Tavares, Borges recupera o “homem” que existe por trás do
personagem histórico e o apresenta como aquele que se sacrifica pela nação e que vê a
morte como uma escolha pela “vitória moral”.
“Nessa perspectiva, a morte representa o mais das vezes um momento
privilegiado para a eclosão ou para o novo impulso de um mito. (...) a
imaginação coletiva sabe transformar a história para fazê-la atingir o
mundo grandioso e simplificado, significativo e sagrado do mito. Pois
é então que um gesto, um grito, uma atitude, por serem últimos,
podem não só adquirir facilmente um valor paradigmático, mas
aparecer tão inapreensíveis que nenhuma explicação seja capaz de
razoavelmente esgotar-lhes o segredo (...).” (BRUNEL: 1997, p. 385,
386)
Ele foi aquele que se mostrou
“corajoso e determinado, disposto a encarar
o destino sem medo ou indecisão, pronto a enfrentar honradamente a morte
anunciada.”
(PRADO: 1999, p. 171) E apesar de estar sempre associado à barbárie
pampeana, recebeu em seu momento de morte, um tratamento de herói, redimido
através de sua morte gloriosa.
Este personagem híbrido portanto, surge para Lojo como o mediador da
“estrutura triangular do desejo”, sugerida por René Gerard em seu ensaio “Mentira
romântica e verdade novelesca”. Segundo a escritora, Facundo é, portanto, o mediador
da atração que Sarmiento sente pela figura política de Rosas, expressada como um
desejo em “estar no lugar de Rosas”, ou “ser” Rosas de algum modo. (LOJO: 1994)
Nesta perspectiva, Denise Tavares da Silva afirma que a decisão de Facundo
Quiroga em enfrentar a morte acaba por ser a única união possível entre ele e os homens
que o assassinou, seus inimigos políticos, e com este espírito dirigiu-se rumo a Córdoba.
(SILVA: 2009)
Assim, pode-se afirmar que as imagens de Facundo, Sarmiento e Rosas
acabam por ser indissociáveis, uma vez que possuem relações diretas em toda produção
historiografia e literária sobre eles.
A perpetuação de Facundo como mito, segundo Maria Rosa Logo, segue
enraizado neste vínculo de atração/repulsão entre Sarmiento, Facundo e Rosas, na teoria