estendendo-se a sua atualidade, como também trazendo à tona a função social do velho,
pois este pode “unir o começo e o fim, ligando o que foi e o porvir” (BOSI, 1994, p.
18). Então, o avô pode aconselhar, lembrar e contar sobre a existência de um mundo
mágico e encantador:
Tenho em casa um saco cheio
De histórias para te contar
E só ando a fazer tempo
Para as poderes escutar.
São histórias de outros tempos
Que a minha vó me contou
Com fadas e lobisomens
Que a imaginação guardou.
E também entram duendes
No enredo dessas lendas
Que quando são bem contadas
São belas como prenda.
E quando eu enfim as contar,
Enquanto tu não as lês,
Só espero ouvir-te dizer:
“Ó avô, conta outra vez”.
Letria aborda a importância das histórias tradicionais, como também enfatiza a
passagem do tempo e a efemeridade da vida poeticamente:
Enrolo o novelo do tempo,
Fio de ouro da aventura
Que é estar sentado a teu lado
No baloiço da ternura.
A vida tem estas coisas
Difíceis de explicar:
Enquanto uns envelhecem,
Outros estão mesmo a chegar.
O escritor português traz temas recorrentes ao sentimento do homem, a
passagem do tempo, a leitura, a escrita, a relação entre o avô e o neto, sobretudo a
proximidade que se estabelece entre as pessoas a partir da contagem de história. Nesse
sentido, o velho transmite conhecimento e deixa aos netos um legado incontestável. Isso
nos remete a função humanizadora. Conforme assinala Antonio Candido, uma vez que
a literatura pode promover o equilíbrio psíquico do sujeito, pois:
Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a
possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação. Assim
como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e
quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado. O
sonho assegura a presença indispensável deste universo. E durante toda
vigília a criação ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos os
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