paixão. E admite não serem nada mais que “‘pretexto para falar de vida, morte, paixão’”
(SAVARY
apud
TOLEDO, 2009, p. 46).
No primeiro poema, “Fogo”, há menção ao verão, estação do ano mais quente.
Sobre esta ligação: “Segundo o
I-Ching
, o fogo corresponde ao sul, à cor vermelha, ao
verão e ao coração. Essa última relação, aliás, é constante, quer o fogo simbolize as
paixões (principalmente o amor e a cólera), quer ele simbolize o espírito [...]”
(CHEVALIER, GHEERBRANT, 1993, p. 440). Relacionando fogo, verão e paixão, o
eu-lírico, notadamente feminino (“Dar-me toda”), entrega-se à paixão, ao verão, que é o
criador, tecedor de rios. Aqui, há a mistura de fogo e água, dois símbolos de erotismo.
Savary defende que o fogo é uma representação de um erotismo mais velado, sutil,
enquanto a água representa o erotismo mais impetuoso.
Nos dois últimos versos da primeira estrofe (“Verão, / foi feita mais uma
vítima.”), se entendermos a relação do verão com o fogo e a paixão, verifica-se que foi
feita mais uma vítima da paixão.
A segunda estrofe explicita quem é esta vítima – o eu-lírico: “Sou um ser
marcado, natureza.”. E estabelecendo, novamente, uma ligação entre natureza e
sentimentos, finaliza o poema: “A tarde crava em meu magma / o selo de sua secreta
pata.”. Como já comentado, aparece aqui, pela primeira vez, a imagem do magma, tão
recorrente na poesia savaryana, como símbolo de erotismo – um fogo que, além de
fogo, não cabe em si mesmo e explode: “[...] representação do lúbrico da sexualidade,
uma vez que é líquido que emerge das entranhas e aquece, inunda e incendeia tudo a seu
redor [...]” (TOLEDO, 2009, p. 66).
Os dois últimos versos do poema podem também representar o ato sexual: a
“secreta pata” como o sexo masculino que crava, invade, penetra o “meu magma”, o
sexo feminino. E, por isso, o eu-lírico como um ser marcado pela natureza.
“Ar”
“Ar” é a representação da liberdade. Liberdade esta tão importante para Olga
Savary, presente em muitos de seus poemas e contos. A esse respeito, assegura Toledo
(2009, p. 45):
Observe-se que limite é coisa que Olga não se impõe, dado o gosto
pela liberdade. Reconstitui a própria criação na inquietude pura de um