da rica imaginação criadora de Botto. A servir de introdução a cada um dos livros do
conjunto
Canções
, Botto acrescentou citações elogiosas atribuídas aos escritores Luigi
Pirandello
1
(1867-1936), Miguel Unamuno
2
(1864-1936), Frederico Garcia Lorca
3
(1898-
1936), António Machado
4
(1875-1939), Rudyard Kipling
5
(1865-1936) e a outros. Não há
fontes seguras que confirmem a autenticidade de tais citações; além de não haver tais
referências nas edições anteriores, tais comentários foram publicados – convenientemente –
após a morte dos supostos autores. No espólio do poeta na Biblioteca Nacional de Portugal,
deparamo-nos com cartas no
mínimo curiosas. Transcritas pelo próprio Botto, encontramos uma carta elogiosa atribuída
a Florbela Espanca
6
(1894-1930) e outra a Miguel de Unamuno
7
.
A tendência mitomaníaca e a megalomania, aliadas a constantes crises financeiras e a
problemas de saúde, fizeram com que o poeta se envolvesse em inúmeras discussões e
contendas, angariando número considerável de desafetos. Um dos casos mais célebres foi o
desentendimento, motivado sobretudo por questões financeiras, com o cineasta António
Lopes Ribeiro (1908-1995). Enquanto a questão era judicialmente analisada, as exibições
do filme
Gado Bravo
(1934) foram temporariamente interditadas. O poeta alegava que
alguns poemas que escrevera para a trilha sonora do longa metragem tinham sido
indevidamente adulterados. A sentença, favorável ao diretor António Lopes Ribeiro, foi um
duro golpe à reputação e ao orgulho de um “grande poeta” que já apresentava sinais de
declínio criativo.
Em agosto de 1947, com a justificativa de divulgar sua obra do outro lado do Atlântico,
Botto partiu para o Brasil com a mulher Carminda Silva Rodrigues. Residiu em São Paulo
até 1951, e depois, até o fim da vida, no Rio de Janeiro. Para explicar os motivos de sua
vinda ao Brasil, ainda em Lisboa, concedeu entrevista ao periódico carioca
Diretrizes
(22
jul. 1947, p.01):
1
“A poesia de Botto é um caso novo e genial.” (BOTTO, 1941, p.10).
2
“Pequenas Esculturas, – pequenas maravilhas tocadas pelo génio de um grande artista.” (
Idem
, p.68).
3
“António Botto é mais do que um grande poeta; os seus versos são coisas extraordinárias.” (
Idem
,
p.146).
4
“A obra de António Botto, - educa, encanta, e ensina. Artista inconfundível, innovador genial, os seus
pensamentos e os seus ritmos abriram largos caminhos espirituais, fizeram escola, e construíram novos
mundos nas realidades do amor.” (
Idem
, p.226).
5
“As canções de António Botto são a voz latina de um poeta universal.” (
Idem
, p.290).
6
Espólio de António Botto, E 12 – 549.
7
Espólio de António Botto, E 12 – 813.