A ENCENAÇÃO DO EROTISMO:
A TEATRALIDADE NA POESIA DE ANTÓNIO BOTTO
Ricardo Marques Martins (Doutorando FCLAR-UNESP)
Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes (FCLAR-UNESP)
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
(PDSE/CAPES)
RESUMO: Apesar de ser apontado como um fenômeno extraordinário na literatura em língua
portuguesa, António Botto (1897-1959) ainda não tem lugar reconhecido no cânone da lírica
lusitana. Criador de uma poesia provocativa e original, que ultrapassou as convenções da forma
poética bem como a austeridade da linguagem culta, enveredou por temas polêmicos e estranhos à
lírica do início do século XX. Um dos maiores cultores do verso e da forma livres em Portugal no
início do século, Botto agrega – a esta liberdade poética – a linguagem simples e dinâmica
apreendida das zonas portuárias e dos bairros populares de Lisboa. A presença da temática
homoerótica em seus versos gerou polêmicas calorosas entre importantes poetas e críticos literários.
Este trabalho propõe uma investigação das estratégias usadas pelo autor para a construção do efeito
de sentido de Erotismo em sua obra – especialmente pelo viés da Teatralidade.
PALAVRAS-CHAVE: Erotismo; Teatralidade; Modernidade; Poesia Portuguesa; António
Botto.
Introdução
A produção literária de António Botto (1897-1959) pode ser considerada um fenômeno
único na literatura em língua portuguesa. Compositor de uma vasta produção literária, Botto
transitou do lírico ao dramático, além da dedicação às narrativas, destacando-se o conto e a
epistolografia ficcional. Considerado um dos grandes vultos da Literatura Portuguesa na
primeira metade do século XX, poucos estudos, entretanto, debruçaram-se sobre tal
produção, sobretudo devido às polêmicas provocadas pelas publicações, mormente
vinculadas a aspectos de cunho biográfico, que contribuíram para que o poeta figurasse (e
que, de certa forma, ainda figura) em posição marginal em relação ao cânone e à crítica
literária. Deparamo-nos com uma produção cujo limite entre a biografia e a ficção é muito
tênue e, a respeito de tais contornos sutis, defrontaram-se poetas e críticos literários de
diversas correntes de pensamento.
1...,383,384,385,386,387,388,389,390,391,392 394,395,396,397,398,399,400,401,402,403,...445