colibri que “bebe o mel feroz do ar / nunca o sossego” (
Ar
). E
simboliza, no elemento ar, a liberdade de que é constituída. Auto-
retrato pintado a pincel fino, ainda sob a égide descompromissada do
simples esboço, confere a si – e a qualquer poeta – o sentido de
liberdade [...].
Dos quatro poemas que compõem “Os 4 elementos da paixão” este é o mais
distante do erotismo. O sentido de liberdade fica claro logo nos dois primeiros versos:
“É da liberdade destes ventos / que me faço.”. E não é somente o ar, mas o vento, que é
o movimento do ar, reafirmando a ideia de liberdade e inquietude.
A segunda estrofe inicia-se com um neologismo: “Pássaro-meu corpo”.
Acrescentando ao substantivo
pássaro
o sintagma
meu corpo
, o eu-lírico produz um
substantivo composto em que seu corpo vira pássaro, e explica o que isso significa:
“máquina de viver”. Relacionando à questão da liberdade, vivemos hoje em um mundo
automatizado, repleto de máquinas, tecnologia e robôs, com a justificativa de que
facilitam nossa vida. Porém, em um mundo tão veloz, em que impera a pressa, quando
arrumamos tempo para simplesmente
viver
? Viver realmente, livremente, sem
preocupação com horários, compromissos e uma correria frenética? Por isso é preciso
uma “máquina de viver”, um “pássaro-corpo”.
É este pássaro que “bebe o mel feroz do ar / nunca o sossego.”. Por isso, a
liberdade dos
ventos
e não simplesmente do
ar.
Porque liberdade não é sossego, é uma
liberdade feroz, em que realmente se vive a vida,
livremente
como um pássaro.
“A Água”
Único dos quatro poemas cujo título possui um artigo definido que antecede o
elemento em questão. Não é simplesmente água, é “A Água”, o que confere maior
importância a este elemento, em relação aos demais.
A água é extremamente importante e significativa dentro da poesia savaryana,
como já citado anteriormente. Na maior parte das vezes, relacionada ao erotismo,
“‘como não poderia deixar de ser, está aqui com o ímpeto do erotismo, uma constante
na obra. Este erotismo refere-se à falta. Não o vazio, a falta’” (SAVARY
apud
TOLEDO, 2009, p. 46). A água é o erotismo mais desvelado, direto, impetuoso.
O poema já se inicia no título, que tem sua continuidade no primeiro verso,
como é possível verificar pelo uso de inicial minúscula na primeira palavra: “A Água /
1...,377,378,379,380,381,382,383,384,385,386 388,389,390,391,392,393,394,395,396,397,...445