Estou cansado do Classicismo Português – Vem para o Brasil o
Maior Poeta Vivo de Portugal: António Botto.
Vou para o Brasil – disse a
Diretrizes
o maior poeta vivo de Portugal,
porque estou cansado. Não há nesta terra um grito, um ponta-pé, um
berro, uma música discordante, um pássaro diferente, só canários.
Desapareceram os rouxinóis, os próprios canários são desafinados (...)
Fazem poesia como fazem certos bonecos que exibem nas barracas
das feiras, para entontecer as crianças e as criadas. (...) O fado é uma
canção que já cheira mal, porque anda muito estragado.
Botto colaborou em jornais brasileiros (
O Estado
,
Folha do Norte
,
Ilustração Brasileira
,
O
Mundo Português
) e portugueses (
Diário de Lisboa
,
O Primeiro de Janeiro
,
Diário
Popular
); reeditou várias vezes
Canções
(1956) e publicou novos volumes de poesia:
Fátima
(1955),
Ainda não se escreveu
(1959). Travou amizade nos círculos literários
brasileiros, principalmente com Érico Veríssimo (1905-1975), Manuel Bandeira (1886-
1968), Rubem Braga (1913-1990) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) que, em
especial, tinha por Botto grande consideração e afeto, como manifesta em muitas cartas,
quatro delas integrantes do Espólio de Botto na Biblioteca Nacional de Portugal:
Seus dois sonetos (admiráveis) foram duas alegrias para mim, com outra
não menor: a de ter notícias suas, que há tanto eu não recebia.
Quando soube que V. adoecera, quis visitá-lo, mas a falta de enderêço me
impedia de manifestar-lhe o meu afetuoso interêsse. Vejo agora que a
notícia assustadora do princípio não se confirmou e que o alto poeta está,
como sempre, em estado de poesia. Trate-se e recupere logo a saúde, para
satisfação dos amigos e para a publicação de novos livros. (...) O melhor
abraço, encantado e grato, do seu, Carlos Drummond de Andrade. (E 12 –
Cartas de Drummond a Botto – 389)
A situação de Botto no Brasil, entretanto, não foi diferente daquela vivenciada em Portugal.
A frustração em relação aos intelectuais e críticos brasileiros (de quem Botto esperava
suntuoso e renovado reconhecimento), as constantes dificuldades financeiras e o
agravamento de seus problemas de saúde, especialmente psíquicos, ocasionaram ao poeta
uma vida não muito distante das mais desconsoladoras.
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