se enovela pelas pernas”. E continua: “em fio de vigor espiralado / sobre o ventre e alto
das coxas.”. A água aqui é o sêmen, o esperma do homem, que penetra suas pernas, as
coxas, até atingir seu ventre, de forma vigorosa.
O poema, constituído de apenas uma estrofe, termina: “O orgasmo é quem
mede forças / sem ter ímpeto contra a água.”.
A água é símbolo básico de sua poesia, especialmente a poesia erótica. E vem
representada das mais diversas formas, desde a água que representa a vida, o sêmen,
assim como o líquido amniótico, passando por igarapés, rios, até chegar ao mar,
símbolo máximo do erotismo mais aberto: “Água é sexo, vida, purificação, regeneração,
iniciação, eros, tânatos” (TOLEDO, 1999, p. 94).
“Terra,”
“Terra,” é o último dos quatro poemas que representam os elementos da
natureza, ou da paixão, como prefere Olga Savary. A seu respeito, Toledo (2009, p. 46)
afirma: “Encerra-se o ciclo vital da Natureza em ‘Terra’, cujo dístico final é
manifestação contundente do mito Eros-Tânatos, que permeará o signo da paixão
savaryana na obra ulterior da poeta: ‘devora-me até que eu / não respire mais’.”. Sobre
essa ligação entre erotismo e morte, Eros e Tânatos, a própria Olga Savary afirma:
Erotismo com a morte. Muitas vezes me perguntaram o que acho da
morte. Sempre disse: um Grande Orgasmo [...] Digo isso há anos nas
entrevistas, quando me perguntam sobre a morte. Não tenho medo.
Desejo-a. Só não gosto de deterioração. Da vida, aceito tudo. Até seu
reverso: morte (SAVARY
apud
TOLEDO, 2009, p. 46).
Presentes também na poética savaryana são Eros e Tânatos – princípio da vida
e princípio da destruição, respectivamente. Sempre num jogo de antíteses, amor e morte
são excludentes, mas também complementares. “Toda busca humana centra-se no
princípio do prazer, que, paradoxalmente, traz, em seu bojo, a centelha da destruição”
(TOLEDO, 1999, p. 81).
O segundo verso do poema “Aetecupi”, do livro
Haikais
(“no momento final
de êxtase e horror”) mostra a dualidade, representada por êxtase/horror, assim como
Eros e Tânatos, do momento do orgasmo, vida e morte.
Assim como em “A Água”, o título deste poema já é parte dele, possuindo a
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