tempo, há, aqui, uma concepção negativa da vida – outra faceta presente nos poemas
bandeireanos – que se opõe à visão hedônica da vida, conforme mencionado
anteriormente.
De fato, esta visão da negativa da vida, “do viver que te humilhou”, está, em
certa medida no poema “Boi morto”, nosso objeto nesse breve artigo, em termos das
perplexidades, das tensões que o homem enfrenta no dia-a-dia na modernidade e
contemporaneidade – isto é, com maior frequência nos séculos XX e atual, de acordo
com o consenso nas ciências humanas.
Aqui, especificamente, faremos uma leitura comparativa do poema ceciliano “Os
três bois” com o bandeireano “Boi morto”, em uma tentativa de aferir em que medida
nossas considerações feitas até aqui sobre a visão da vida e da morte na poesia dessas
duas personalidades se repetem ou se modificam neles.
Leiamos o poema de Bandeira primeiramente:
Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Divido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto,
Boi morto, boi morto, boi morto.
Árvore da paisagem calma,
Convosco – altas tão marginais!
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto,
Boi morto, boi morto, boi morto.
Boi morto, boi desconhecido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,
Boi morto, boi morto, boi morto.
“Boi morto” foi primeiramente posto a conhecimento público em 1951, em
suplemento dominical e, depois, saiu no penúltimo livro de Bandeira, o
Opus 10
, em
1952 (cf. FLORES, 2011, p. 1). Já no seu
debut
causou controversa ao levantar a
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