É no mundo possível da ficção que o homem se
encontra realmente livre para pensar, configurar
alternativas, deixar agir a fantasia. [...] A leitura
literária é um direito de todos e que ainda não está
escrito.
Bartolomeu Campos de Queirós
A literatura, uma das formas de manifestação da arte, é um direito de todos,
como já defendia o respeitado crítico literário Antonio Candido, em artigo datado de
1988 e originado de uma conferência. Para o sociólogo, tanto quanto o direito à
moradia, comida, instrução e saúde são direitos dos cidadãos conhecer/ler obras de
Dostoievsky ou ouvir a música de Beethoven, exemplos de práticas culturais de sujeitos
com alto nível de letramento estético. Para Candido ([1988] 1995), assim como não há
equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não possa existir equilíbrio
social sem a literatura, já que esta é parte dos chamados “bens incompreensíveis”.
Portanto, é fundamental que a escola básica promova a leitura literária de seus alunos,
como forma de proporcionar um contato com a arte da palavra escrita e promover o que
chamamos aqui de letramento literário, ou seja, a apropriação de um repertório literário
representativo e pautado nas escolhas individuais conscientes: “a formação de um leitor
que saiba escolher suas leituras, que aprecie construções e significações estéticas, que
faça disso parte de seus fazeres e prazeres.” (PAULINO, 2010, p. 161-162)
Dentre as chamadas agências promotoras do letramento (KLEIMAN, 1995) e
mais especificamente do letramento literário, temos a família, o círculo de amigos, as
bibliotecas comunitárias e a escola. A leitura, inclusive, é considerada como uma das
principais heranças que a escola pode deixar para seus alunos, como argumenta Cagliari
em
Alfabetização & linguística
, ainda no final dos anos oitenta do século passado. O
trabalho com a leitura literária, mediado pela escola, pode ocorrer basicamente de duas
formas: a leitura em sala de aula e a chamada leitura extensiva, que ocorre fora da sala
de aula e até mesmo fora do ambiente escolar. Determinados gêneros literários
narrativos, como os contos e as crônicas, pelo tamanho do texto, pela brevidade, são
mais apropriados para a leitura na sala de aula. Outros gêneros, como o romance, são
mais apropriados para a leitura extensiva. Nossa proposta, aqui, centra-se num conjunto
de narrativas poéticas produzidas por Bartolomeu Campos de Queirós, cujas leituras
tanto podem ser promovidas em sala de aula, quanto de forma extensiva, tendo em vista
suas características formais e estruturais.