resenha no jornal
Suplemento literário
, de Minas Gerais, que dedicou uma edição à
literatura para crianças, da qual destaco o texto:
[Este livro] vem ampliar o universo memorialístico do escritor, que se volta
para o lado materno da família, ao tratar poeticamente do avô homeopata,
homem de poucas palavras e que via o mundo pela metade. (CORRÊA,
2007, p. 29)
Em 2006, o escritor volta a publicar mais um pequeno livro em que se volta para
o tempo da infância, mesclando memória e ficção:
Antes do depois
(Editora Manati),
uma pequena e delicada narrativa poética em primeira pessoa, com 46 páginas.
Em 2011, a editora Cosac Naify lança no mercado o derradeiro livro (mais ou
menos) memorialístico de Bartolomeu Campos de Queirós,
Vermelho Amargo
, que teve
uma boa repercussão na mídia. José Castelo, André Nigri, Márcio Ferrari e Miguel
Sanchez Neto publicaram resenhas e comentários bastante elogiosos sobre a obra à
época do lançamento. Diferentemente das demais obras do escritor, esta traz em sua
ficha catalográfica a classificação como “literatura brasileira”. O projeto gráfico do
livro, bem como de vários outros de Queirós, é primoroso. Este vem em capa dura, na
cor de um vermelho encarnado, tamanho 20 x 11 cm, com setenta páginas. Não há
divisão em capítulos. Parágrafos com formatação americana vão apresentando as
recordações em primeira pessoa, de um menino que via dia a dia os irmãos começarem
a ter atitudes estranhas, como mastigar vidro ou miar em lugar de um gato mudo, no
seio de uma família com um pai alcoolista, caminhoneiro, bastante ausente e bem rígido
quando perto da família, e uma madrasta (a mesma figura malvada estereotipada nos
contos de fadas tradicionais?) que vai dividindo um único tomate para todos os
membros da família. À medida que alguns filhos vão se afastando do lar, as rodelas,
antes quase transparentes, começam a se tornar cada vez maiores, porque o quinhão de
cada um aumenta, na medida que também aumenta a melancolia, a dor, a falta desse
narrador. A cor da fonte do texto é de um vinho esmaecido, lembrando o “sangue
pisado” e a epígrafe usada, do próprio autor, porque sem aspas e sem autoria atribuída,
diz: “Foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar seu amargor.”,
uma metáfora bastante clara, a nosso ver, da escrita como ato de catarse.
José Castello compara o texto queirosiano com a arte de Artur Bispo do Rosário,
dizendo que se o artista plástico esquizofrênico precisou “enquadrar os objetos
existentes para só assim salvá-los do grande dilúvio”, Queirós faz o mesmo com as
palavras: “v
iver é legendar o mundo. Cabia-me o trabalho exaustivo de dar sentido a tudo.”