Castello concorda com o narrador, “a literatura é isso: uma legenda, sem ela o
real se torna ilegível”. André Nigri, na revista
Bravo
chega a comparar
Vermelho
Amargo
com
Infância
, de Graciliano Ramos, tendo em vista o viés de dor e medo que
perpassa as duas obras. Outras obras de memória são citadas na matéria, na tradição
literária mineira, como
Minha vida de menina,
de Helena Morley, e a monumental obra
de Pedro Nava, iniciada com o livro
Baú de ossos,
na década de 70 do século passado.
Lançar o livro
Vermelho Amargo
como obra para adultos é uma decisão editorial
inversa à de lançar os outros livros (mais ou menos) memorialísticos de Bartolomeu
Queirós como literatura para jovens. Em todas as obras, o leitor-modelo pode ser tanto
um adolescente quanto um adulto. Afinal, sabemos bem que não é exatamente o texto
(nem o projeto editorial) que definem a recepção, mas sim o próprio leitor empírico, que
faz da literatura o uso que bem entende. Sobre isso, já citamos aqui nosso trabalho de
doutorado, em que estudamos as recepções de dois livros, um deles de autoria de
Bartolomeu Queirós, por pré-adolescentes e adultos. Talvez o fato de
Vermelho amargo
trazer um tema praticamente ausente da obra de Bartolomeu Campos de Queirós, que é
alusão ao sexo. Apenas duas vezes esta questão é mencionada nos textos queirosianos.
Em “... das saudades que eu não tenho”, o narrador diz: “aprendi a honrar a Deus sobre
todas as coisas, mesmo tendo a mão do vigário passeando sobre minhas pernas”. Em
Vermelho Amargo
o narrador menciona ter conhecido o amor físico no porão da casa
em que morava a família, mas não diz com quem. De todo modo, essas duas referências
à sexualidade são, digamos assim, sutis e delicadas, a despeito da multiplicidade de
interpretações e sentidos que a elas os leitores de diferentes faixas etárias e graus de
amadurecimento possam atribuir.
Miguel Sanches Neto não poupa elogios ao texto de Bartolomeu Campos de
Queirós:
Neste depoimento de inspiração autobiográfica, a prosa poética de
Bartolomeu é dolorosamente bela. [...] Uma obra delicada como arame
farpado, nas palavras do diretor teatral Gabriel Villela, que assina o texto de
quarta capa.
Vermelho Amargo
é um daqueles livros em que a prosa e a poesia se
misturam de maneira tão íntima que é impossível separá-las. Por um lado
presenciamos um texto escrito em prosa, de caráter biográfico sobre a
infância do escritor. Do outro encontramos um texto magnífico, com um
jogo de palavras muito bem traçado e um passeio entre o real a fantasia que
dão o tom poético a obra de Bartolomeu. (SANCHES NETO, 2011.
[Acesso em 6 de junho de 2012]
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