pensamento,/ Em nenhuma epiderme.”), seja pelo não reconhecimento através do nome,
nosso código de identificação, nosso número de série, perante a sociedade organizada.
Desta forma, o poema “A morte absoluta” de Bandeira apresenta uma concepção
da morte entre desencanto e desencantamento, ou seja, expressa almejar não deixar
nenhum legado
post mortem
, demonstrando um ceticismo quanto ao que se dá no além-
túmulo e, quanto à sua concepção da vida, um hedonismo ao deixar implícito que a
morte é, ou deve ser, o fim, restando, portanto a vida. Esse elogio hedônico à vida, em
oposição ao término de todas as coisas pela morte, fica explícito no poema “Preparação
para a morte”:
A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é um milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
A oposição é literal: “A vida é um milagre” enquanto “a morte” é “o fim de
todos os milagres”. Mais uma vez, para nós, a oposição entre o ceticismo quanto a vida
após a morte e o hedonismo perante a vida se fazem presentes. Porém, há de se deixar
estabelecido que a concepção da morte como fim absoluto não nos parece ser tomada
em tensão, ou perplexidade, há, aparentemente, uma aceitação apaziguada desta
assumida realidade. Para exemplificar isso, basta-nos considerar o poema “O Homem e
a Morte”, em que se descreve o encontro entre esses e a apresentação a Morte
personificada como a “mestra que jamais engana”, a “melhor amiga”, aquela que vem
lhe trazer “descanso/Do viver que te humilhou”. Mais do que isso, ela lhe oferece um
tratamento “com infinita doçura”, o que se configura como “o carinho inefável/De quem
ao peito o criou./Era a doçura da amada/Que amara com mais amor.” Nesse contexto, a
Morte é benfazeja e benvinda, isentando da morte qualquer negatividade. Ao mesmo