hiper-individualismo, desliga o indivíduo da realidade humana (social)
que lhe compete exprimir e lhe serve de alicerce, e a arte passa a
correr o perigo de se desfuncionalizar – o artista perdendo contato
com o seu tempo e os temas que ele lhe propõe. A solução está em
apreender o sentido da sua época e adaptar a ele os meios técnicos, a
fim de que a obra se revista de uma larga e fecunda
utilidade
, que
sirva de apoio aos que a ela se dirigem. E o artista, assim, pode deixar
de ser um criador mais ou menos gratuito para adquirir uma eficiência
real, que lhe dê razão de ser em momentos como o nosso, em que todo
virtuosismo se torna uma traição (CANDIDO, 2001, p. 175)
Portanto, desde as considerações de “O artista e o artesão” (a conferência de
1938) até as conclusões de “O movimento modernista” (publicado em 1943), Mário de
Andrade percorre um caminho crítico cuja pedra fundamental pode ser resumida assim:
“o artesanato é base para a realização integral do artista, que se eleva graças a ele a uma
técnica apropriada” (CANDIDO, 2001, p. 175).
Concluindo, é possível dizer que há correspondência entre o que reivindica o
ensaio de Augusto de Campos e o pensamento crítico de Mário de Andrade, embora
este tenha levado mais tempo para amadurecer seus resultados. Afinal, Mário entrara em
contato com a literatura popular por dois flancos, o Folclore e a literatura culta.
Conforme explica Telê Ancona Lopez, Mário pesquisa documentos ao vivo ou
registrados em trabalhos de folcloristas, etnógrafos e sociólogos; compõe literatura culta
que vem das composições populares – o autor as recria em romances, contos e poemas.
Portanto,
Sua pesquisa de campo lhe revela os assuntos com que trabalha a
composição popular de seu tempo e com que trabalhou a geração que
o antecedera; sua pesquisa em autores aprofunda no tempo e no
espaço a informação. A literatura culta, prosa e poesia, serve-lhe de
fundamentação quanto à validade da assimilação do material popular.
Os três estudos se completam, vivificados pela comparação e pela
análise. Resultam nos três caminhos que marcam o seu
relacionamento com o Folclore do Brasil: o pesquisador que colhe, o
sistematizador que reflete e conclui, o artista que cria (LOPEZ, 1972,
p. 123)
4. Bibliografia
CAMPOS, Augusto de.
Balanço da bossa e outras bossas
. São Paulo: Perspectiva,
1993.
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