DEDO DE PROSA COM AUGUSTO DE CAMPOS E MÁRIO DE ANDRADE:
BRAÇOS DE POLÊMICA SOBRE O POPULAR E O ERUDITO NO CORDEL
Gabriela Kvacek BETELLA
Docente – UNESP-Assis
RESUMO: Em 1967, Augusto de Campos escreve um breve artigo no qual afirma que a
poesia popular autêntica é “inimitável e incorrigível”, insistindo na questão dos limites
entre cultura popular e erudita, asseverando a superioridade dos poetas populares,
chamando-os “profissionais” em oposição aos “amadores” cultos e citadinos, dispostos
a refazer, completar ou reestruturar as formas poéticas “primitivas”. Não é exagero
recorrer a estudos basilares de Mário de Andrade, hábeis na recuperação de assuntos
tradicionais e mitos universalizados e gerais na tradição nordestina. O olhar do
modernista voltava-se para a pesquisa nacional, para a descoberta da criação e da
temática popular, buscando compreender o comportamento e as necessidades
brasileiras. As fronteiras entre popular e erudito tornam-se, nas concepções críticas e
literárias de Mário, difusas e a produção transita nos dois sentidos, para que a literatura
se torne nacionalista e, numa etapa seguinte, universal.
PALAVRAS-CHAVE: Popular e erudito; Mário de Andrade; Augusto de Campos
1. Os nossos anos rebeldes, loucos e incríveis
Quando o mundo se preparava para a ideia de o homem poder se curar de
problemas do coração através do transplante do órgão, a corrida espacial já havia
cumprido algumas baterias e a televisão, que seduzia fãs no Brasil, experimentava as
transmissões via satélite. Beatles, Elis Regina, Clube da Esquina: até pelo menos 1965,
já tínhamos muito a ouvir, antes mesmo da Tropicália. Fellini já tinha abocanhado três
prêmios de melhor filme estrangeiro na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas
americana, o mundo provava os modelitos de Audrey Hepburn e se encantava com a
adaptação de Cortázar em
Blow up
, de Antonioni.
Na segunda metade da década de 1960, muita coisa aconteceu rápido demais, a
ponto de não se dar muita atenção ao que havia sido feito nos primeiros cinco anos,
especialmente se pensamos na inclinação progressista de esquerda que vários países
tomaram. Com o assassinato de John Kennedy e o golpe militar no Brasil, ao menos
duas portas se fecham. Contudo, quando Anne Bancroft incorporava Mrs. Robinson ou,