N unca uma vez julgaria
D e passar tantos regalos
R odeada de vassalos
O nde pobre era outro dia
.
(Grifos de BATISTA em DIEGUES JR., 1986, p. 397).
As mesmas alterações foram registradas por Sebastião Nunes Batista no poema
Os sofrimentos de Alzira
, de autoria de Leandro Gomes de Barros e reeditado em 1951,
Juazeiro do Norte/CE, pelo poeta José Bernardo da Silva. Na edição póstuma de 1919,
temos a estrofe final assinada por Leandro:
L eitores, eis um exemplo
E sse que aqui escrevi,
A vida traz isso tudo,
N ada de mais nunca vi,
D eus paga o bem é com o bem,
R ico é aquele que tem
O amor de Deus em si.
Na edição de 1951, os 4º. e 6º. versos foram adulterados:
L eitores, eis um exemplo
E sse que aqui escrevi
A vida traz isso tudo
O utra cousa nunca vi
D eus paga o bem com o bem
G rande é aquele que tem,
O amor de Deus em si.
(Grifos de BATISTA em DIEGUES JR., 1986, p. 395).
Zumthor salienta que o contexto cultural exerce nisto somente um papel
acessório e, o que está em causa, são as idéias correntes entre nós sobre a
individualidade e a autonomia da produção poética, bem como a noção de autor. Ele
observa que colocar em oposição a oralidade e a escrita anão explica nada, pois foi a
partir de uma reflexão sobre o escrito que a crítica contemporânea chegou a diluir o
autor em seu texto, negando-lhe o direito de se colocar em instância exterior e criadora,
detentora exclusiva do sentido. Autoria para nós, acrescenta Zumthor, implica possessão
juridicamente consagrada. Contudo, ele diz que o conceito de propriedade poética não é
uma idéia nova, nem é característica dos nossos costumes. Para ilustrar, ele enfatiza que
a maioria das sociedades, mesmo as mais arcaicas,
[...] reconhecem e sancionam um direito exclusivo de uso ou de posse de alguns produtos
poéticos: tal canto pertence a uma aldeia, uma confraria, uma família, um indivíduo; e o
beneficiário desse direito, segundo as etnias, será o compositor do poema, o recitante ou o
dedicatário (ZUMTHOR, 2010, pp. 237-238).
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