É interessante notar que, na segunda parte do poema, há a retomada de alguns
elementos da historia da Ciência, postos em termos de determinismo X indeterminismo.
Wolfgang Smith, em seu livro
The quantum enigma
, no capítulo intitulado
On whether
"God plays dice
", refaz essa discussão de maneira muito original. Diz Smith
One knows that quantum mechanics systems are indeterminate. So far
as its predictions are concerned, quantum mechanics is therefore an
inherently probabilistic or statistical theory - this much is clear. What
is not clear, on the other hand is whether the theory is complete, that is
to say, fundamental. Conceivably quantum mechanics may be dealing
with certain stochastic epiphenomena generated by an underlying
system of a deterministic kind. That is more or less what Einstein
thought, and what those who believe in "hidden variables" think to
this day, in defiance of Copenhagenist orthodoxy. And so the
celebrated debate between Einstein and Bohr goes on, and will
presumably continue until the central issue has been resolved: the
question, namely, whether the universe is deterministic or not.
(SMITH, 1995, p. 85)
E conclui: “Does God plays dice? That seems to be the question. And it
appears that Einstein has put it well; for the wording iself suggests what by now must
have become quite evident: to wit, that the issue is not in fact scientific, but incurably
metaphysical.” (SMITH, 1995, p.86)
A segunda parte do poema de Haroldo termina justamente com o famoso debate
entre Einstein (que, segundo Pécora, "preferiu fazer-se de Spinoza") e Niels Bohr. A
discussão ulterior, da terceira parte do poema, se dá, pelo menos em parte, em clave
metafísica.
AMMR tem defeitos, evidentemente, como, aliás, demonstrou Paulo
Franchetti. Porém, no gênero, é tudo, ou quase tudo, que temos na Literatura Brasileira.
E a discussão que o poema levanta nunca foi tão pertinente, pois não se trata de
idiossincrasias do autor. Concluo que a análise do poema tem, necessariamente, de
passar longe do rotineiro e estéril “exercício de admiração” entre
literati
(como dizia
H.L Mencken), que é mais ou menos a regra quando se fala de Haroldo de Campos.
REFERÊNCIAS
ALIGHIERI, D.
La Divina Commedia
. Edited and Annoted by C.H. Grandgent.
Boston: Heath and
Co, 1913.
ALLEN, P.L; HESS, P.M.J.
Catholicism and Science
. Westport, Connecticut:
Greenwood Press, 2008.