públicas, principalmente do Nordeste brasileiro – é também considerado poeta pela
audiência. No ambiente de feira, o vendedor de folhetos geralmente introduz novos
versos aos poemas escritos em folheto, inventa novas rimas, concedendo à história
narrada outro sabor e, às vezes, o final que a audiência quer ouvir.
Em
Introdução à Poesia Oral
, Paul Zumthor usa a palavra
poeta
para designar
aquele ou aquela que, executando a performance, está na origem do poema oral, de
modo que
poeta
subentende vários papéis, seja tratando-se de compor o texto ou dizê-lo
(ZUMTHOR, 2010, p. 234). Nesse caso, a ação do compositor, preliminar à
performance, encontra-se numa obra ainda virtual. Zumthor observa que, em toda
prática da poesia oral,
[...] o papel do executante conta mais que o do compositor. Não que ele o ofusque
completamente; mas, manifesto na performance, contribui mais para determinar as
reações auditivas, corporais, afetivas do auditório, a natureza e a intensidade de seu
prazer. A ação do compositor, preliminar à performance, encontra-se numa obra ainda
virtual (ZUMTHOR, 2010, p. 236).
Então, pela performance, o intérprete passaria a ser o autor do texto, pelo menos
no momento de sua apresentação em público, noção que ajuda a desinstalar do
imaginário coletivo a idéia de que a poesia oral é anônima. Zumthor observa ainda que
costumamos associar espontaneamente uma canção ao nome daquele que a executou;
um hino tradicional, à qualidade social ou vocal de um cantor, de modo que, referir-se
ao autor, “é erudição do letrado”. Daí, conclui Zumthor, a ideia de que a poesia oral é
anônima. Para o medievalista, o que importa para a audiência não é o autor da
composição, mas aquele que a executou em performance e a performance, relata, não é
anônima:
Invocar o anonimato de um texto ou de uma melodia não é constatar a simples ausência
de um nome, porém uma ignorância absoluta. Por isso, a performance não é anônima. [...]
não há anonimato absoluto. Certamente o auditório, em geral, não se preocupa com o
autor daquilo que ouve. Essa diferença não implica que ele negue sua existência, mesmo
que ela seja mítica. Mesmo nas sociedades mais tradicionais, o executante sabe bem que a
questão virá cedo ou mais tarde: de onde foi tirado isso? A questão sempre fará sentido. A
exatidão da resposta pouco importa (ZUMTHOR, 2010, p. 236).
Zumthor observa que a distribuição dos papéis na produção, oral depende muito
pouco das condições culturais. Ele cita o exemplo dos executantes não compositores na
África, onde a composição do texto não acompanha sempre a de uma melodia, fato que
o leva ao seguinte questionamento: “Mas as variantes de uma canção tradicional,