trazidas em performance, farão do executante um autor?” (ZUMTHOR, 2010, pp. 234-
235).
Para o medievalista, a única ocasião que permite que a audiência conheça a
autoria do que está sendo lido ou interpretado, é quando o cantor declina seu nome no
momento em que está apresentando uma performance. Para ilustrar sua hipótese,
Zumthor cita o caso do cantor africano Nasir Udin que reivindica sua dignidade de autor
identificando-se no final do canto, na qualidade de porta-voz da comunidade. Contudo,
acrescenta Zumthor, “a frase com a qual ele o faz está frequentemente integrada ao
poema, portanto interiorizada, referida ao desígnio próprio da performance”
(ZUMTHOR, 2010, p. 237). Para continuar ilustrando, o medievalista cita o caso dos
folhetistas brasileiros que, “muito próximos de sua oralidade original, igualmente
assinam com acróstico seus livrinhos... o que não impede de forma alguma o plágio, já
que basta mudar o acróstico” (ZUMTHOR, 2010, p. 237).
O caso de plágio citado por Zumthor era muito comum entre os pioneiros da
Literatura de Cordel no Nordeste brasileiro. Geralmente, quando um poeta recriava a
narrativa em versos de um poeta anterior, costumava acrescentar estrofes, suprimir
outras, modificar versos ou adulterar o acróstico da estrofe final. Sebastião Nunes
Batista, ao fazer a restituição da autoria dos poemas de Leandro Gomes de Barros
(1865-1918), constatou que o poeta João Martins de Ataíde (1880-1959) havia
adulterado vários acrósticos que permitiam atribuir a autoria dos poemas a Leandro. Um
desses poemas, intitulado
A filha do pescador
, reeditado por Ataíde no Recife em 1948,
traz o acróstico modificado de LEANDRO para BNANDRO, com modificações dos 1º.
e 2º. versos da estrofe final. Na edição de 1916, da autoria de Leandro Gomes de
Barros, temos a seguinte configuração:
L indos dias gozaram
E m paz e doce harmonia
A filha do pescador
N unca uma vez julgaria
D e passar tantos regalos
R odeada de vassalos
O nde pobre era outro dia.
Na edição de 1948, assinada por Ataíde, temos:
B elos dias que gozaram
N a paz de doce harmonia,
A filha do pescador
1...,165,166,167,168,169,170,171,172,173,174 176,177,178,179,180,181,182,183,184,185,...445