Nem vento...
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar... (LOBO; CAPINAM, 1967)
A canção se abre com o destaque para a repetição da terceira pessoa do verbo
ser no pretérito imperfeito, recurso ideal para reproduzir o ato de contar uma história.
Há ainda a utilização de passados (especialmente o imperfeito do subjuntivo) que
reforçam o caráter de esperança. De qualquer modo, sobressaem-se o ritmo reforçado
pelas repetições, no campo das sonoridades, e o caráter de contenção forçada,
sustentada pelo fio de confiança na possibilidade incerta, no plano do significado.
Quando se analisam as canções pré-tropicalistas, ao contrário, o que prevalece é o
impacto do momento – veja-se a dramaticidade da canção “Domingo no Parque”, da
mesma edição do Festival. De modo semelhante, a utilização do presente nos tempos
verbais e o arranjo de “Alegria, alegria” recorrem aos efeitos de presentificação e
surpresa, o que certamente causou, ao lado das inovações musicais, a desconfiança do
público.
Uma das questões menos resolvidas e mais discutidas ao longo do ciclo do
nosso modernismo literário (e bem depois) foi a relação entre a arte e sua recepção por
parte do público. No início dos anos de 1960, o Centro Popular de Cultura (CPC), em
vários lugares do país, se envolveu com a produção de arte politizada. O poeta Ferreira
Gullar, presidente por uma gestão do CPC, esteve bastante envolvido nos projetos de
cultura popular e proletária, tendo produzidos alguns poemas de cordel voltados para o
tipo de conscientização pretendida. As formas de produção de cultura, entretanto, não
tinham como ponto de partida elementos da tradição popular verdadeiramente
incorporados às técnicas de vanguarda e releitura de modelos. Do outro lado da moeda,
se pensarmos no impacto do Festival de 1967, nos cordeis cepecistas de Ferreira Gullar
a execução não correspondeu à recepção.
Assim como fizemos para introduzir este texto, nosso trabalho aproveita
impressões e leituras “guardadas”. Não pretendemos mais do que dialogar com duas
opiniões para refletir sobre as instâncias do popular e do erudito, não somente na poesia
de cordel, como também na cultura brasileira.
2. A reação de Augusto de Campos