direcionar o resultado para um interesse específico (individual, político). Nesse sentido,
já vemos algum ponto de contato com o que afirmava, de modo mais incisivo, Augusto
de Campos na apresentação do poeta de cordel como representante da poesia popular.
Mário enxergava a diferença entre os objetivos da arte popular e da arte
erudita. Se a primeira atende às necessidades “psicoformadoras” do povo, a
transposição de seus recursos para a criação erudita seria um dos fundamentos para a
nacionalização da arte brasileira. É preciso lembrar que o projeto estético de Mário de
Andrade tem premissas calcadas nas estruturas e conteúdos nacionais e autênticos como
fontes, isto é, passíveis de serem vertidos das manifestações populares para a criação do
artista, independentemente da apropriação, transformação ou reinvenção. Os
procedimentos não afastam a cultura estrangeira, que deve ser vista, segundo Mário,
com esperteza.
Mário previa as tensões possíveis entre popular e erudito. Na sua concepção, a
coexistência tensiva é positiva, pois tal relação pode gerar uma nova forma de criação,
uma manifestação de arte erudita com base na reorganização dos pressupostos e na
reinvenção da matéria popular. A sua nova organização estética colocaria a forma
artística em acordo com as necessidades do povo em seu contexto. Segundo Telê
Ancona Lopez (1972, p. 124), assim como o povo conserva a tradição e atualiza os
assuntos, o artista erudito pode recriar a composição popular de acordo com o momento
que vive.
Em “O artista e o artesão”, texto escrito a partir de aula inaugural de 1938,
Mário insiste na necessidade de investigação e sistematização das fontes de cultura
popular, sem o que o conhecimento e o aproveitamento das mesmas não seriam
adequados. Segundo a sensibilidade do artista culto, os dados podem ser trabalhados
fora do terreno popular. Mário fez exatamente isso antes de sistematizar o processo
estético em 1928.
Ao resenhar
O baile das quatro artes
(volume que também acolhe “O artista e
o artesão”), Antonio Candido admite que Mário de Andrade tem como ponto de partida
o artesanato como base para a realização integral do artista. O crítico acaba fazendo um
resumo do ideário do autor paulistano quanto considera:
Mas o exagero do artesanato, isto é, o requinte técnico leva ao
virtuosismo, que pode comprometer a obra de arte, uma vez que lhe
sobrepõe o próprio artista como objeto. Este virtuosismo, produtor de