Diante do aproveitamento de algumas manifestações populares manipuladas e
direcionadas pela cultura erudita, o poeta Augusto de Campos se manifestou algumas
vezes, como, por exemplo, através de seus escritos sobre o Tropicalismo, no qual
ressalta a aposta musical e poética na novidade, na desmistificação da tradição e na sua
associação possível com as vanguardas. Embora as opiniões do poeta sejam
extremamente interessantes (CAMPOS, 1993), vamos nos deter sobre um artigo sobre a
poesia de cordel.
A reunião de ensaios
Verso Reverso Controverso
, de Augusto de Campos,
publicada em 1978 pela Editora Perspectiva, tem muito mais a dizer do que a
profundidade ensaística dos escritos ali coligidos. Do arranjo gráfico de
capa/contracapa/orelha aos temas abordados pelo irmão mais novo de Haroldo de
Campos, temos uma subversão de convenções e um agradável desacerto com o
consenso, algo muito oportuno para aquele final de década de 1970, em que a ditadura
militar esvanecia e os problemas do país continuavam.
Os textos que Augusto de Campos seleciona abordam a tradução e a
interpretação de poesia, essencialmente, com uma profundidade estética que hoje falta
aos estudos acadêmicos – e eu me pergunto se, numa certa geração, afora os ensaios de
Davi Arrigucci Jr., se um dia tivemos profundidade estética nos estudos acadêmicos de
poesia... A reunião de trabalhos provindos de artigos publicados na imprensa faz o leitor
aproximar poetas de épocas distantes – dos provençais aos barrocos, e dali aos
modernos – de modo proposital. Criação e tradução são confrontadas o tempo todo,
ainda que a vanguarda concretista brasileira, da qual fez parte Augusto de Campos,
tenha rompido os limites entre as duas instâncias, apostando nas metamorfoses literárias
– o que a literatura comparada do meu tempo de faculdade chamaria de cadeia de
influências.
O último capítulo do livro de Augusto – “Um dia, um dado, um dedo” – trata
da literatura popular. O artigo de 1967 respondia a todos os que haviam se desligado da
poesia concreta para resgatar o “sujeito perdido”, entre os quais Ferreira Gullar que,
depois de ter sido concreto, depois de ter sido neoconcreto, passou a criticar, ao lado de
seus pares cepecistas, o conteúdo intelectual da poesia popular, procedendo à correção