Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: “Quem foi?”
Morrer mais completamente ainda,
― Sem deixar sequer esse nome.
Este poema inicia-se com uma estrofe síntese do que seria uma “morte
absoluta”, ou seja, enuncia-se o tema (“Morrer,”) em suas diferentes instâncias: a
primeira seria a morte física, seguida do término da alma (“Morrer de corpo e alma.”) e,
então, a morte integral (“Completamente.”), que seria a morte pela extinção no âmbito
social, pelo apagamento na história, na memória coletiva.
Nessa perspectiva, na segunda estrofe, em que a morte física é tratada, o eu-
lírico expressa o ensejo de não deixar o legado da carne; aquele disposto no velório
popular: caixão com o cadáver à vista, com “a exangue máscara de cera”, coberto de
flores “que apodrecerão”. Há, aqui, um desencanto para com os despojos físicos e para
com as relações humanas, pois, por um lado, o cenário funerário é grotesco, ao expor a
iminência da decomposição do corpo, cujo único efeito é o susto, e, por outro lado, e
conseguinte, as lágrimas derramadas se voltam mais ao “espanto da morte” do que às
saudades porventura sentidas em relação ao indivíduo agora ausente. Portanto, para
poupar o inútil espetáculo de horrores, o eu-lírico deseja, em primeira instância, “morrer
sem deixar o triste despojo da carne”.
Na próxima estrofe, roga pela morte da alma, questionando se deveras existiria
um céu que poderia realizar o sonho de céu de alguém, visto que a concepção de céu é
culturalmente construída e estabelecida aquém dos indivíduos e, nessa condição, será
que faria jus ao ideal individual de céu? Desta vez, demonstra-se um desencantamento
em relação ao ideário religioso, uma descrença, uma desesperança, quanto ao além-
túmulo, preferindo, então, a extinção da “alma errante” à desilusão de céu não
satisfatório.
Por fim, apresenta-se o querer desaparecer completamente por meio da extinção
de sua pessoa para o coletivo, seja na lembrança (“Em nenhum coração, em nenhum