Estabelecemos, ainda que de forma concisa e, por isso, insatisfatória, a base da
discussão, afastando preconceitos ideologicamente orientados e lugares-comuns do
ateísmo militante. Haroldo, em AMMR, não fica do lado nem do cientificismo
predominante nem expressa fé religiosa. O livro é a indagação constante de um
agnóstico.
Sérgio Mauro afirma que "Teologia e verdades científicas não se separam no
Paraíso". Podemos citar como confirmação da afirmação de Mauro os seguintes versos
da Commedia:
Qual è 'l geometra che tutto s'affigè
Per misurar lo cercchio, e non ritrova
Pensando quel principio ond'egli iindige,
Tale era io a quella vista nuova:
Veder voleva come si convenne
L'imago al cercchio, e come vi s'indova;
(...)
(PARADISO, XXXIII, 133-138)
O tema do fragmento é o mistério da Encarnação - a adaptação da imagem
humana ao "círculo divino". Como símile desse aparente paradoxo, Dante usa o famoso
problema geométrico da quadratura do círculo. Vejamos agora como Ciência e Religião
se comunicam na terceira parte de AMMR.
A referência às "partículas neutrinas" dá ensejo, no poema, à aparição dos
primeiros elementos da cabala hebraica, juntando-se, num belo símile, o elemento
místico-religioso à física quântica:
131.1 (...)
2. pois se o neutrino dura outras instáveis
3. partículas se criam e se consomem
132.1 como os anjos que exsurgem e voláteis
2. por um instante (apólogo rabínico)
3. louvam a FACE e morrem de inefável
133.1 deslumbre: é o que se lê num bejamineo
2. midrash (se bem recordo
) (...) (CAMPOS, 2000, p.87)
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