Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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está aqui.
Entrevistadoras:
E o seu pai, você conheceu?
— V.R.C.S.
: Ah, o meu pai, ele largou da minha mãe quando minha mãe estava grávida
de mim. Ele foi embora. Eu convivi um pouco com a minha mãe depois que eu casei. No
terreno que eu, a minha mãe e a minha irmã compramos, nós construímos uma edícula. Eu
e meu marido, nós fomos morar lá. Foi onde que eu comecei a conviver com minha mãe,
mas daí a minha mãe faleceu. Daí o meu pai apareceu, depois de 43 anos.
Entrevistadoras:
Você nunca tinha tido contato com ele?
— V.R.C.S.
: Nunca tinha visto. Eu tinha uma paixão de saber quem era meu pai. A minha
mãe nunca jogou eu contra meu pai, nunca. Ela sempre falava, seu pai é muito bom,
trabalhador. E ela não falava o porquê a gente se separou. Eu perguntava e ela falava que a
relação não dava certo que os pensamentos eram diferentes. A minha mãe era analfabeta,
ela não sabia nada. E ela já tinha aquela educação do berço. Então, ela passou cada
coisa para mim, para minha irmã enquanto ela viveu com a gente quando era pequena.
Foi uma educação muito rígida que ela passava para gente, não mexer nas coisas dos
outros, não brigar, quando tiver briga vocês saem de perto. Até hoje eu sou assim, se eu
vejo uma briga ou eu choro ou saio de perto. Eu morro de medo de briga. Não gosto de
confusão, odeio confusão, não gosto de como que as pessoas me tratem de jeito diferente
dos outros, entendeu? Eu gosto de ser tratada que nem todo mundo é tratado. O pouco
que eu convivi com minha mãe ela passou muita coisa boa para mim. Então, foi assim.
Minha mãe conviveu de um lado, meu pai do outro e eu no meio com outras pessoas.
Entrevistadoras:
E quando o seu pai apareceu como foi esse encontro?
— V.R.C.S.
: Ah, foi uma surpresa. Quando ele apareceu, eu tinha mais irmãos, eu não
sabia que ele tinha outro casamento. Hoje, eles vão a minha casa, eu vou à casa do meu
irmão. Eles têm uma situação financeira mais do que eu, do que minha irmã. Eles são
estudados. Eles têm sítio e tem uma situação financeira bem equilibrada. As outras primas
minhas, uma é diretora, outra é professora, a outra é dona de sei lá das quanta, né. Então,
todos eles que ficaram do lado meu pai tiveram oportunidade na vida. Agora, quem ficou do
lado da minha mãe não teve porque a vida da minha mãe foi trabalhar. E o que ela passou
para nós foi o trabalho.
Entrevistadoras:
Foi só você e mais uma irmã?
— V.R.C.S.
: É. Eu e minha irmã.
Entrevistadoras:
E a sua mãe trabalhava com que?
— V.R.C.S.
: A minha mãe trabalhava num restaurante.
Entrevistadoras:
Restaurante.
— V.R.C.S.
: Do Juca, na época.
Entrevistadoras:
E sua irmã não trabalhou como catadora? Não trabalha aqui na
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