Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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também trabalha aqui; tem minha filha que trabalha lá no barracão, na prensa.
Entrevistadoras:
Eles vieram depois que você veio trabalhar aqui?
— N.V.V.:
Depois de mim, através de mim eles vieram para a Cooperativa. Eles viram
que o projeto era bom. Antes, todo mundo falava, assim: “Não vai trabalhar lá? Você está
doida? O pessoal não paga. Onde se viu trabalhar num lugar assim?” Mas mesmo assim
eu tentei, gostei e estou aqui.
Entrevistadoras:
Quando você veio, tinha a intenção de ficar aqui ou era temporário?
— N.V.V.:
Não tinha. Era temporário. E nesse temporário já estou aqui há seis anos.
Entrevistadoras:
E com seus pais, você não teve mais contato?
— N.V.V.:
Não. Eu me separei do meu marido. Eu aluguei uma casa fui morar sozinha.
Aí, eu conheci meu segundo esposo, que eu achei que ia ser um mar de rosas. Só tomei
na cabeça. Aí, eu tive meu casal de filhos, que é o Elielson e a Taís que trabalha no
barracão. O Elielson está com vinte e dois anos e a Taís tem vinte, que é do meu segundo
casamento. Também foi outra decepção. Marido alcoólatra, drogado...Eu vivi vinte e dois
anos com ele. Aí, eu me separei. Foi quando eu fui embora para Marília, para depois eu
chegar até aqui a Cooperativa.
Entrevistadoras:
Para romper mesmo os laços?
— N.V.V.:
Isso. Depois de três anos, agora em 2007, mataram ele. Aí, eu sou viúva, né?
Sou viúva do meu segundo marido. Hoje, eu tenho outro esposo, já está no terceiro (rs),
que a fila anda.
Entrevistadoras:
E a escola?
— N.V.V.:
Então, meu anjo, é assim, eu tenho muita vontade de voltar a estudar. Mas
naquele tempo, meu pai dizia que filha mulher não precisa estudar. Filha mulher tinha que
saber limpar, lavar e cozinhar. Então, a gente era de uma família, assim. E como a gente
morava no sítio, lá a gente cortava arroz e colhia café. Então, para ele, era mais lucro nós
na roça do que na escola, né? Aí, foi quando os anos se passaram e hoje eu estou com
trinta e nove anos e não voltei a estudar mais. Mas, eu tenho vontade de voltar a estudar.
Eu acho que nunca é tarde, né. Uma vez eu assisti na televisão, que uma senhora de
quase setenta anos [estava] fazendo faculdade. Então, pretendo um dia...
Entrevistadoras:
Voltar a estudar?
— N.V.V.:
Voltar a estudar sim.
Entrevistadoras:
E os filhos, como que foi a experiência de ser mãe?
— N.V.V.:
Ah! Eu falo uma coisa devido todos os problemas, todos os sofrimentos, para
mim valeu a pena. Porque é a coisa mais importante. Em primeiro lugar Deus, minha
mãe e meus filhos. Então, foi com muito sacrifício, muito esforço, mas eu criei todos eles.
Hoje, eles já são casados, hoje cada um já adquiriu sua família. Sou avó de seis netos
maravilhosos que para mim é um orgulho. Os outros falavam que amor de avó é mais que
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