Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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sei olhar e saber o que é certo e o que é errado; então, na parte da burocracia, de venda da
Cooperativa é Creusa, Claudineis e Daniela, a parte maior é deles. Eu estou nessa outra
parte de materiais.
Entrevistadoras:
Você vem para cá todo dia?
— M.G.S.:
Eu venho todo dia, fico na esteira junto com o pessoal. Eu trabalho normal, a
gente é coordenadora, mas fica junto com o grupo, leva o grupo. Tem um grupo novo que
está na esteira, então a gente tem que ensinar ele. Se eles quiserem virar um dia catador,
porque eles não são catadores, a gente vai orientar eles. O emprego é assim, como não
tem lá fora eles vêm aqui procurar. A pessoa que não é um catador, tem que saber o básico,
como a Creusa. Ela não era catadora, não foi catadora de rua, mas hoje ela está aqui, sabe
muita coisa da Cooperativa. Eu já fui uma catadora de rua. Já mexi no lixo e estou aqui
fazendo o meu papel; cada um tem um papel importante, que sabe fazer, não é verdade?
Entrevistadoras:
E perante os homens, por você ser mulher e participar da administração,
você sente, vê algum tipo de preconceito?
—M.G.S.:
Não, a diretoria tinha nove diretores. Hoje, tem cinco, porque saiu quatro. Então,
a gente senta, tem reuniões toda quarta-feira, então, tudo o que se passa na semana a
gente discute. Vê o que é certo e o que é errado, então, é assim que a gente funciona. Se
for para mudar alguma coisa a gente muda, mas em conjunto. Não é assim “eu vou fazer
sozinho, vou fazer valer”. A gente funciona assim, num todo, em grupo, para poder passar
para todo o grupo depois.
Entrevistadoras:
Tem algum laço de amizade ente vocês ou é só trabalho mesmo?
—M.G.S.:
Então, amizade a gente tem, mas quando está lá fora a gente não deve misturar
amizade com trabalho. O trabalho é o trabalho, depois é a amizade. Mas a gente conversa,
depois que terminou o trabalho, aí, depois, se quiser tomar uma cerveja, isso é fora.
Entrevistadoras:
Mas tem essa amizade?
— M.G.S.:
Tem, tem essa amizade, lá fora, depois.
Entrevistadoras:
Quando você frequentava a escola você gostava?
— M.G.S.:
Eu estudei no José Augusto Ribeiro, minha infância foi ali, desde a primeira
série até a quinta. Eu só parei cedo mesmo por causa da minha gravidez.
Entrevistadoras:
Você gostava então da escola?
—M.G.S.:
Gostava, depois eu tive oportunidade de voltar e não voltei, porque eu já arrumei
filho, com filho é duro voltar a estudar.
Entrevistadoras:
E nesse período que você trabalha aqui, já teve algum problema de
saúde?
— M.G.S.:
Graças a Deus não, minha saúde é perfeita, aqui tem tanta gente que se
machuca, machuca braço, perna. Mas olha, graças a Deus, faz oito anos que estou na
Cooperativa e nunca aconteceu de eu quebrar um braço. Mas, às vezes, acontece uma
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