Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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precisava de alguma coisa para fazer. Eu queria fazer alguma coisa. Mas pelomedicamento,
ainda, eu tenho até medo de arrumar serviço, né. Aí, eu fui lá na Ana Maria. No barracão,
lá em cima. Fui ver uma reunião deles. Falei para Ana Maria que eu queria entrar na
Cooperativa. Eu comecei a catar na rua com eles. Minha mãe comprou um cavalo para nós
e tinha uma carroça. Estava catando até bem. Nós duas saía na tarde, né. Mais aí, quando
chegava lá, o homem estava até bêbado. Saía de carroça pela cidade para catar. Perigoso
até matar o cavalo, né. E a gente também em cima, né. Aí, eu desisti, sabe? Aí, vendi meu
cavalinho. Aí, fiquei mais um tempo parada. Aí eu vendo minha ex-cunhada que trabalha
aqui (que é irmã do finado marido meu) sabia que ela trabalhava aqui e tal. Mas naquele
tempo estava numa crise ruim aqui, né? Mas não é por isso que eu não entrei. Não entrei
porque eu estava tomando o remédio ainda. Eu não queria entrar aqui [ainda tomando
remédio] senão não iam me aceitar. Aí tinha uma amiga minha que também trabalhava, o
presidente, o Claudinei (que mora perto de casa ali foi criado junto com a gente ali) aí, eu
falei para ela: Fala para Sandra, fala para o Claudinei, tal... Ela falou: “— Maria quer entrar
aqui e tal”; “— Manda ela vir conversar”. Eu vim conversei... Comecei a trabalhar. Estou
até hoje. Agora em fevereiro faz cinco anos.
Entrevistadores
: Então foi para ajudar na renda mesmo?
— M.J.T.:
Na renda. E depois que meus filhos casaram, eu não queria ficar, como se diz
[na dependência] se eu podia trabalhar. Eu não quero [depender dos filhos]. Os filhos, hoje
têm filhos, né. Então, eu é que [devo] ajudar. (rs)
Entrevistadores
: E quando você chegou aqui tinha intenção de ficar ou era apenas
temporário?
— M.J.T.:
Não. Serviço meu foi de oito anos. Eu nunca tive serviço de menos de um ano.
Então, eu cheguei aqui e fiquei com a Sandra. Eu achei que não ia ficar porque a Sandra ia
me mandar embora. Eu pensei comigo. Mas, como eu fiz de tudo, aí ela acostumou comigo.
Eu trabalhei muito na esteira. Hoje, eu não subo na esteira por que eu não enxergo. Então,
aqui da coleta o pessoal falou que não tem o tal do gaz. É mais limpo. Aí eu fui ficando e
ficando e gostei. Sabe. Achei gostoso o serviço. Como se diz, a turma tem menos idade... é
mais nova né, dura mais né. Aí peguei amizade com a meninada que brinca, né. E quando
eu entrei aqui ainda dava umas briga com a mulherada. Sabe? Mas porque eu não sabia
que tinha diabete. Eu tinha as duas vistas boas. Então, eu brigava, eu era irritada. Sabe?
Eu via uma coisa mal feita aquilo me irritava. Mas aí, me chamaram, conversaram comigo
e tal. Daí, fazendo os exames, a minha diabete estava a trezentos e pouco e não sabia.
Aí eu comecei a tomar o remédio para diabete. Aí, fiquei calma, sabe? Virei amiga de todo
mundo. Fiquei amiga de todo mundo. No que poder ajudar eu ajudo. Eu quero amizade. Eu
quero paz com elas. Entendeu?
Entrevistadores
: Você começou na esteira e depois você foi para a rua?
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