Zélia Lopes da Silva (Org.)
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tem homens aqui dentro que se escondem do serviço. Pessoas de idade se matando no
serviço porque os mais jovens, homens, fortes tudo se escondendo, e esses aí estão tudo
aqui dentro.
Entrevistadoras:
E você acha que essas pessoas fazem isso por que elas não têm
consciência?
— M.E.M.S.
: Eu acharia que esse pessoal aí tinha que fazer uma reciclagem deles. Quem
quer realmente trabalhar e quem não quer trabalhar. Porque tem muita gente que está
trabalhando nas nossas costas, ganhando nas nossas costas porque falta no serviço,
mente, e chega aqui e eles aceitam de volta. Quer dizer, aqui é como a mãe e o pai, né?
Aquele pai e a mãe que não quer ver nada. Aqui, infelizmente, acontece muito isso, você
entendeu? E tem muita coisa errada aqui dentro em relação a isso, aos homens porque
muitos poucos dão para você contar nos dedos, um ou dois que trabalham porque o resto
tudo se esconde.
Entrevistadoras:
Tem pessoas com problemas, assim, de álcool?
— M.E.M.S.
: Tem sim, mas ninguém vê isso, entendeu? Prefere tapar a vista e deixar
passar as coisas. Então, eu só digo assim que já chegou ao ponto aqui de pessoas pegarem
a faca, desapartar a briga aqui no pátio por causa de um CD que achou que ganhou na
coleta; de bater, se atracar, querer se matar um o outro de faca. Eu já cheguei a desapartar
briga aqui dentro por isso. Mas por que acontece isso? Falta de selecionar as pessoas.
Entrevistadoras:
Mas isso acontece será que não é por que faltam pessoas para trabalhar
e aí eles aceitam quem chega?
— M.E.M.S.
: É aceitam, entendeu? Aceitam quem chega. Muitos são mandados do Fórum
para vir trabalhar aqui, entendeu? E são obrigados a pegar o serviço. Só que essas
pessoas aí não dão trabalho, infelizmente e graças a Deus, ou felizmente, não dá trabalho.
Agora outros que têm família, esses dão trabalho. São poucos, mas dão trabalho mesmo.
Em relação à bebedeira, vem trabalhar bêbado, o pessoal aceita, você entendeu? Eu acho
errado. No meu modo de ver, para mim, eu fazia dois dias de experiência, não deu para
o serviço “vai andar”, você entendeu? Porque a gente ajuda quem se ajuda. Então, são
coisinhas assim que faltam, sabe? Falta uma pessoa de pulso para impor horário, para
impor o serviço: “Oh fulano você vai fazer isso e isso”. Não deu para trabalhar, então, rua.
Entrevistadoras:
Na sua avaliação, o que mudou com a entrada na Cooperativa?
— M.E.M.S.
: O que mudou foi isso aí, porque antes quando eu trabalhei aqui, eles não
aceitavam erro, entendeu? Então, agora estão aceitando tudo. Porque antes era bem
melhor, o pessoal era mais unido, tinha mais união, você entendeu? E hoje não tem isso
mais. [...] se vocês quiserem andar com uma câmera aí vocês veem os rapazes tudo
sentado.
Entrevistadoras:
Mudando um pouco de assunto do trabalho, você tem alguma atividade
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