Zélia Lopes da Silva (Org.)
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novamente, estou aí, né.
Entrevistadoras:
A primeira vez que você veio para cá você começou na coleta?
— M.E.M.S.
: É, na coleta. Trabalhei na esteira. Trabalhei na coleta depois fui para o
caminhão do mercado. Fiquei nove meses no caminhão do mercado. Aí foi quando eu saí
daqui.
Entrevistadoras:
Você já voltou trabalhando na esteira?
— M.E.M.S.
: Voltei. Aí fui para a coleta de novo, aí estou na coleta agora.
Entrevistadoras:
Você já teve algum problema sério de saúde?
—M.E.M.S.
: Estou tendo agora, infelizmente! Umproblema de coluna que eumemachuquei.
Então, agora eu vou ter que fazer uma cirurgia, entendeu? Nunca tive problema de saúde,
eu tinha problema de pressão alta, essas coisas. Mas, normal, minha mãe era cardíaca
né? Mas em relação à saúde, agora que eu tive um problema de pneumonia há uns dois
meses atrás, fiquei internada 45 dias, depois que voltei, aí me machuquei na coluna.
Entrevistadoras:
Você foi atendida aqui mesmo no hospital de Assis?
— M.E.M.S.
: Fui atendida aqui mesmo, no regional. No regional fiquei internada 17 dias
na Santa Casa, e estou até agora fazendo tratamento. Voltei agora e vou ter que parar de
novo para fazer a cirurgia.
Entrevistadoras
: E já foi marcada? Como foi o atendimento?
— M.E.M.S.
: Não, vai ser marcada na próxima quinta-feira por causa desse feriado. Era
para eu ter ido terça-feira. Então, houve um contratempo, eu não pude ir às duas e meia
da tarde para [marcar novamente]. Se eu tivesse ido, ia operar amanhã.
Entrevistadoras:
Você falou que começou a trabalhar com sete anos, com o quê?
— M.E.M.S.:
Com doze anos. Meu primeiro serviço foi em casa de família, trabalhei cinco
anos. Comprei um bar na beira da praia e fui cuidar do que é meu. Com dezoito eu já tinha
e eu desfiz de tudo isso por causa da minha família. Aí foi quando eu vim embora para cá.
Entrevistadoras:
Quando você chegou à Cooperativa tinha alguma ideia do que era
catação?
— M.E.M.S.
: Não, não tinha. Eu não conhecia essa parte porque muita gente não dá
valor, né? Hoje eu sei o que é o trabalho, valorizo muito, apesar do que a gente ganha.
Mas a gente, graças a Deus, pelo menos para mim que sou sozinha, a gente passa umas
barrinha, entendeu? Mas dá para sobreviver.
Entrevistadoras:
Você acha que as pessoas têm uma visão negativa desse trabalho?
— M.E.M.S.:
A gente chega na porta batendo, fazendo abordagem da coleta. As pessoas
não conhecem, tem pessoas que maltratam; tem algumas pessoas que recebem você
muito mal, inclusive fala que vai chamar a polícia, você entendeu? Aconteceu um fato
comigo esses dias que eu apertei interfone de um senhor de idade. Até levei em conta
que é um senhor que se tiver uns 79 ano, não tem muito. Ele abriu o interfone, a sacola de
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